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12a. BIENAL DO LIVRO DO RIO
Bienal começa com crítica a Lula por "ataque à língua"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Esvaziada pelas ausências do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que esteve na edição de
2003- e do ministro Gilberto Gil,
a abertura da 12ª Bienal Internacional do Livro do Rio, no final da
manhã de ontem, teve sua sisudez
habitual perfurada por um discurso contra o governo federal.
Diante da governadora do Rio,
Rosinha Matheus, opositora de
Lula, o presidente da Academia
Brasileira de Letras, Ivan Junqueira, atacou o que chamou de
"constantes e crescentes agressões à língua portuguesa".
"A mais recente, e uma das mais
graves, vem deste governo, que,
ao lançar esta cartilha [de termos
politicamente corretos, preparada e depois suspendida pela Secretaria de Direitos Humanos],
quer legislar sobre a língua. Todos
precisamos repudiar com veemência essa tentativa", afirmou
ele, que não chegou a receber discursos de apoio, mas ganhou palmas da platéia, na qual estava a escritora Lygia Fagundes Telles.
Em contraste com a indignação
do poeta imortal, o australiano
(que já morou nos EUA, no México e hoje vive na Irlanda) DBC
Pierre esbanjou bom humor na
coletiva que deu no estande da
Record, editora brasileira que lançou no país o seu "Vernon God
Little", um dos mais importantes
livros em língua inglesa lançado
nos últimos anos.
Capivaras
Peter Finlay, nome de batismo
de DBC (codinome que significa
Dirty But Clean, ou "sujo, porém
limpo"), tomou várias cervejas,
acendeu muitas vezes seu cigarro
preparado artesanalmente, e revelou que entre suas obsessões estão as capivaras. O seu cartão de
visitas é, inclusive, ilustrado com
o desenho de uma. Ao saber que
uma capivara que vivia na lagoa
Rodrigo de Freitas foi a musa do
último verão carioca, brincou:
"Meu lugar é aqui."
Mesmo afirmando que não estava sendo brilhante ("Talvez melhore com mais três cervejas"),
Pierre fez críticas à sociedade norte-americana, alvo principal de
seu romance, e em especial à mídia norte-americana. "As informações veiculadas dentro dos Estados Unidos são completamente
diferentes das que vejo fora. É um
país que te ensina a fazer dólares,
ser atraente, ter boa saúde, mas eu
nunca conseguirei ser americano", disse.
Por ter vivido muitos anos no
México ele gosta de se dizer mexicano e, portanto, próximo do Brasil pelas afinidades latinas. "Acho
que o Brasil é o exemplo maior de
uma cultura apaixonada, por isso
sempre quis tanto conhecer
aqui", disse ele, que chegou ao Rio
ontem de manhã.
Os livros que pediu à sua editora
mostram seu anticonvencionalismo: "Abusado", de Caco Barcellos, sobre tráfico de drogas; "Batidão", de Silvio Essinger, sobre o
universo do funk carioca; e um
volume de poemas do erótico e
"marginal" Glauco Mattoso. Apesar disso, ele disse que seu próximo romance, que acabou de escrever, tem um estilo mais tradicional do que o de "Vernon God
Little". "É até escrito na terceira
pessoa", contou.
O primeiro dia da feira, que vai
até o dia 22/5, ainda foi fraco em
termos de público (que paga R$
10 de ingresso, com meia-entrada
para estudantes e maiores de 60
anos) e celebridades. Um dos estandes que despertou maior atenção foi o que tinha o dançarino
Carlinhos de Jesus evoluindo e
autografando livros.
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