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ARTES PLÁSTICAS
Para Barney, sua obra mais comentada teve trajetória "saudável", apesar da mudança de seu público
Trio elétrico será palco de debate político
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia abaixo continuação da entrevista com Barney.
(FCY)
Folha - Foi de Lindsay essa idéia,
já que ele tem fortes vínculos com a
música brasileira?
Barney - Ele me convidou várias
vezes para ir a Salvador, e estive lá
em 2000, pela primeira vez.
Folha - E como foi sua reação ao
Carnaval baiano?
Barney - Tenho muito interesse
por esse contexto, no sentido de
que os trios se movimentam pelas
ruas, como em sistemas circulatórios, e quando esses trios se encontram é fascinante. Pode-se
constatar que há vários níveis sociais numa celebração como essa,
o que gera uma dinâmica interessante, especialmente para mim,
que venho de outra sociedade.
Folha - Vários artistas brasileiros
já realizaram obras a partir do Carnaval, como Hélio Oiticica. Você conhece o trabalho dele?
Barney - Arto me mostrou coisas
que aconteceram no Brasil do
ponto de vista histórico, mas estou aprendendo, sou um novato.
Folha - Seu trabalho também vai
além de contextos específicos da
arte, você planeja usar essa experiência em Salvador em sua obra?
Barney - Em primeiro lugar,
pensamos nessa participação como uma performance em tempo
real, mas vou estar filmando, fazendo um vídeo disso tudo e não
tenho idéia do que irá surgir. São
duas coisas diferentes: participar
em um trio no Carnaval tentando
fazer um trabalho em tempo real,
mas também criar um filme no
contexto do Carnaval.
Folha - Qual o tema do trio?
Barney - Estamos trabalhando
no tema, mas ele está centrado na
imagem de uma grande árvore,
que estará no trio. E haverá uma
série de elementos, cuja narrativa
irá refletir sobre questões ecológicas. Eu diria que é uma sobreposição de temas com uma questão
política mais larga, que tem a ver
com a atual situação política
mundial. De certa forma, será
uma maneira de ver questões ecológicas pontuais com imagens
mais amplas tiradas do candomblé, de Ogum. Pretendemos criar
um trabalho político com senso
abstrato, propondo perguntas em
vez de respostas.
Folha - Você poderia ser mais específico ao falar de questões políticas?
Barney - Para mim será uma forma mais provocativa de ver como
os seres humanos brigam, como
continuam a realizar conflitos,
apesar de criarem as Nações Unidas, por exemplo. Parece haver
uma inabilidade dos seres humanos em usar os sistemas que eles
criam numa forma democrática.
Vivemos num momento difícil.
Usar o candomblé é uma forma
de meditar sobre nossa condição
do ponto de vista da natureza.
Folha - E você acredita que a arte
tem um papel nesses tempos difíceis?
Barney - Acredito que a arte tem
uma oportunidade única para
servir como plataforma para o debate, já que ela não tem a necessidade de ser um manifesto concreto. Ela pode ser um elaborado e
político diálogo que cresce de forma independente em uma obra
de arte, o que acredito acontecer
neste caso. Há muitos problemas
políticos a serem questionados.
Folha - Em "Cremaster" você quis
trabalhar com questões políticas?
Barney - "Cremaster" foi mais
como descrever uma paisagem
interna e, apesar de ser uma obra
acabada, funcionou de várias formas, ao longo de seu caminho. Ela
tornou-se uma forma de diálogo
sobre questões de gênero, o que
não era necessariamente minha
intenção original, mas é interessante quando uma linguagem
abstrata se torna a plataforma para uma conversa mais específica.
Folha - "Cremaster" foi uma das
obras mais faladas dos últimos
anos, você esperava isso?
Barney - Foram necessários dez
anos de fato para a criação de
"Cremaster", então ela teve uma
vida bastante orgânica. Ela começou com um tipo de público muito específico e terminou com outro, mas isso de forma orgânica.
Quanto mais cinemático se tornava o trabalho, mais audiência alcançava. De certa forma, no final,
quando ele foi visto em retrospectiva, voltou a ser aquilo que era no
início, ou seja, um projeto de escultura, o que foi muito satisfatório. Sobre o sucesso, o apoio ao
projeto possibilitou seu crescimento, e isso foi muito saudável,
pois ele cresceu como deveria.
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