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PROGRAMAÇÃO
Reprises e produções importadas dominam 70% da programação
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A TV Cultura -cujo currículo
é marcado por iniciativas de sucesso como "Bambalalão" e
"Castelo Rá-Tim-Bum"- tem
hoje cerca de 70% de sua programação preenchida por reprises e
importados. E mais: nos 30%
considerados "inéditos", a própria emissora contabiliza transmissões de missas, concertos e
produções das TVEs da Bahia,
Rio de Janeiro e Minas.
Com poucas novidades no ar,
amarga audiências que chegam a
menos de um ponto (cerca de 48
mil domicílios na Grande SP).
No mês passado, o Ibope registrou 0,8 de média para o período
matutino, resultado que o instituto costuma chamar de "traço"
(abaixo de um ponto). À tarde,
com mais TVs ligadas, subiu para 2,4. Mas voltou a cair à noite,
horário nobre, para um ponto.
Além disso, o pouco que resta
de produção própria não está
entre as mais assistidas. Em 21
rankings semanais do Ibope
com as cinco melhores audiências de cada canal (de 30/12/2002
a 25/5/2003), há apenas quatro
entre as 105 citações para material feito na TV Cultura: uma para o "Ensaio", uma para "Expedições" e duas para "Cultura Documento". Estes dois últimos, no
entanto, incluem co-produções e
documentários independentes.
Nas outras 101 menções dos
"cinco mais" estão reprises do
"Castelo" (produzido há cerca
de dez anos), missas de Aparecida, filmes brasileiros, documentários e infantis de fora. Programas em produção atualmente
(como o infantil "Cocoricó") sofrem com a falta de verba geral
da emissora e com o atraso no
pagamento de parte das equipes.
Há cerca de seis meses, o salário dos terceirizados, que deveria
ser pago sempre no dia 10, tem
sido liberado entre 15 e 20. A remuneração de abril foi paga pela
metade em 18 de maio e os outros 50% saíram na quarta passada, dia 11, com um mês de atraso.
Reprise/reapresentação
As atrações do público infantil
(o maior da TV Cultura) ocupam quase dez horas diárias de
sua programação. Fora algumas
vinhetas inéditas, no ar há duas
semanas, o resto é composto por
reprises ("Castelo", "Ilha" e outros) e material de fora, como
"Turma do Pererê" (TVE/Rio).
A emissora corre ainda o risco
de perder infantis estrangeiros.
Responsáveis por seus melhores
ibopes, os importados despertaram o interesse de outras TVs,
que agora tentam comprá-los.
A Cultura considera o interesse
prova de que acertou na programação. "A escolha dos programas comprados faz parte da autoria institucional da Cultura. A
concorrência está de olho porque sabemos escolher. É verdade
que temos dificuldade para pagar. Mas devemos ser condenados [pela perda dos infantis]?",
diz o cientista político Carlos
Novaes, consultor da Cultura.
A emissora também não concorda em incluir os infantis nas
reprises (que prefere chamar de
"reapresentação") e diz que é um
método necessário "ao aprendizado das crianças". "Programação infantil repetida é recurso
pedagógico. O "Castelo" teve 12
pontos na terceira reprise. O
"Ilha" tem melhor audiência do
que na estréia", diz Novaes.
Para a emissora, sua programação está dividida em 21% de
reapresentações, 49% de infantis
e 30% de horas inéditas.
Jorge da Cunha Lima, diretor-presidente da Fundação Padre
Anchieta, atrela o ibope atual em
parte à mudança de estratégia da
concorrência. "Em 95, 96, tivemos ibopes altíssimos com "Castelo". Mas éramos os únicos a fazer programa infantil. As outras
descobriram o filão e compraram a programação da Disney e
os [desenhos] japoneses. Então,
o "Castelo", que já reprisava, não
piorou ou envelheceu, mas teve
um concorrência brutal."
Baseada em pesquisa interna, a
direção diz que seu público acha
a programação atual melhor do
que "antes". E sustenta que o parâmetro de qualidade não pode
ser "audiência e lucro". "Esta
gestão ganhou 113 prêmios internacionais", diz Cunha Lima.
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