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BASTIDORES
Na roda-viva, direção acusa gestão anterior
DA REPORTAGEM LOCAL
O diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, Jorge da
Cunha Lima, 71, está há um mês
no centro de uma roda-viva. O
vazamento de um ofício em que
a direção da TV Cultura informava ao governo Alckmin não
receber recursos do Estado suficientes para pagar aos fornecedores de arroz e feijão do restaurante teve efeito bumerangue.
Na sequência, Cunha Lima foi
convocado para explicar a parlamentares como a fundação
administra seus recursos, justificar as 250 demissões do início
deste ano e a responder acusações, sem provas, de mau uso do
dinheiro público. "Cada um usa
os problemas da fundação em
função do seu interesse político.
Não basta falar mal do governo,
é bom dar uma lambada na minha gestão", diz Cunha Lima. "É
o troco [que recebo em consequência] das demissões."
Ele concedeu entrevista de
quase três horas à Folha na última terça. "Fico indignado quando questões de honra vêm [à tona]", disse, ao comentar acusações de favorecimento em contratos feitas por sindicalistas.
A fundação encerrou 2002
com um déficit de R$ 12 mi. Cunha Lima diz que a crise é estrutural, por falta de investimentos.
Espicaçada por críticas à sua
gestão feitas pela secretária estadual da Cultura, Cláudia Costin
(à qual a fundação é vinculada),
a diretoria da TV atribuiu à administração anterior a maior
parte das dificuldades. "Ficamos
reféns de dívidas herdadas", diz
o diretor-superintendente, Manoel Luiz Luciano Vieira.
Ele acusa antecessores de terem omitido nos balanços dívidas transferidas a Cunha Lima.
"Só pode ser piada alguém culpar uma administração que saiu
há nove anos pelos problemas
atuais", diz Roberto Muylaert,
que presidiu a Cultura de 86 a
95, na época áurea do "Castelo
Rá-Tim-Bum" e outros infantis.
Bresser
"A Cultura não está em conflito com o governo de São Paulo",
diz Luiz Carlos Bresser Pereira,
do conselho da fundação e a
quem se atribui influência nos
conceitos de gestão defendidos
por Costin. A secretária trabalhou com ele no governo FHC.
"Jamais ouvi falar em denúncias de desvios", diz Bresser, que
nega interesse em ocupar o cargo de Cunha Lima, como circulou em 2001. "A fundação está
bem dirigida pelo Jorge."
Os deputados Ênio Tatto (PT)
e Orlando Morando (PSB) protocolaram pedidos de CPI na
Assembléia de SP. "Há denúncias graves de enriquecimento
ilícito, de pessoas que receberam sem trabalhar", diz Tatto.
Deputada da base governista,
Maria Lúcia Amaury (PSDB), da
Comissão de Cultura, Ciência e
Tecnologia da Assembléia, é
contra a CPI. "A comissão pode
apurar e tomar as medidas. A
CPI atrasaria o processo."
Vicente Cândido (PT) pediu
ao Tribunal de Contas do Estado
(TCE) auditoria na fundação.
"A crise é mais política e financeira. Mas como há indícios, estamos pedindo a auditoria."
Em 1999, a fundação pediu ao
TCE normas próprias para contratações de pessoal e de prestadores de serviços. "A fundação
tem natureza especial. As análises podem ser menos formais.
Mas as contas devem respeitar
os princípios de transparência
que a gestão pública exige", diz
Antonio Roque Citadini, conselheiro do TCE.
(FV, FF e LM)
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