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Família gaúcha defende falta de cores
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Porto Alegre parece ser a capital
da TV em preto-e-branco. Há até
uma família devota da "instituição". São os Zambon, que mantêm TVs em PB nas suas casas e
fazem disso um tipo de devoção.
"Para mim, há filmes coloridos
que eu prefiro ver em preto-e-branco, é muito mais artístico.
Não é nem questão de tanto faz.
Eu prefiro mesmo", diz a investigadora veicular Neusa Zambon,
44, que também defende outras
espécies eletrônicas em extinção,
como os toca-discos e seus vinis.
A TV monocromática -como
diriam os especialistas- de Neusa evita até brigas de casal. Vendo
sua TV de 14 polegadas, ela deixa
seu marido em paz para assistir
aos seus programas prediletos na
TV em cores e a cabo.
Nem mesmo aqueles programas que o senso comum exigiria
cores importam para ela. "Até jogo de futebol eu vejo numa boa.
Sou gremista, e um "Gre-Nal", por
exemplo, é disputado entre o Grêmio com sua camisa listrada, e o
Internacional, com a camisa lisa."
E se estragar a TV? "Mando arrumar na hora. Espero que ainda
haja oficinas para arrumar essas
TVs. Eu me orgulho muito da minha tevezinha: nunca precisou ir
para a oficina ou deu trabalho."
Com o resto da família, tudo é
muito semelhante. Faz 20 anos
que a assessora de imprensa da
UFRGS (Universidade Federal do
Rio Grande do Sul) Darceli Zambon, 48, irmã de Neusa, mantém a
rotina de chegar em casa, descansar e, enquanto prepara alguma
comida, ligar a TV de 17 polegadas em PB que tem na cozinha.
É nessa hora que aproveita para
ver a programação das emissoras
locais, abrindo mão dos programas da TV a cabo. Zambon tem
quatro TVs em casa: duas em cores (uma de 37 polegadas e outra
de 20 polegadas) e duas em PB
-de 17 e 14 polegadas.
"Não vejo diferença entre elas.
Às vezes, até me esqueço de que
estou vendo um programa em
preto-e-branco. E os filmes clássicos em preto-e-branco dos quais
eu gosto tanto? O que importa para mim é o conteúdo. Minha TV
da cozinha tem som e imagem
bem nítidos e é uma relíquia",
conta ela aos risos, salientando
que já a ofereceu, "por empréstimo", a pessoas que a recusaram.
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