São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Família gaúcha defende falta de cores

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Porto Alegre parece ser a capital da TV em preto-e-branco. Há até uma família devota da "instituição". São os Zambon, que mantêm TVs em PB nas suas casas e fazem disso um tipo de devoção.
"Para mim, há filmes coloridos que eu prefiro ver em preto-e-branco, é muito mais artístico. Não é nem questão de tanto faz. Eu prefiro mesmo", diz a investigadora veicular Neusa Zambon, 44, que também defende outras espécies eletrônicas em extinção, como os toca-discos e seus vinis.
A TV monocromática -como diriam os especialistas- de Neusa evita até brigas de casal. Vendo sua TV de 14 polegadas, ela deixa seu marido em paz para assistir aos seus programas prediletos na TV em cores e a cabo.
Nem mesmo aqueles programas que o senso comum exigiria cores importam para ela. "Até jogo de futebol eu vejo numa boa. Sou gremista, e um "Gre-Nal", por exemplo, é disputado entre o Grêmio com sua camisa listrada, e o Internacional, com a camisa lisa."
E se estragar a TV? "Mando arrumar na hora. Espero que ainda haja oficinas para arrumar essas TVs. Eu me orgulho muito da minha tevezinha: nunca precisou ir para a oficina ou deu trabalho."
Com o resto da família, tudo é muito semelhante. Faz 20 anos que a assessora de imprensa da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Darceli Zambon, 48, irmã de Neusa, mantém a rotina de chegar em casa, descansar e, enquanto prepara alguma comida, ligar a TV de 17 polegadas em PB que tem na cozinha.
É nessa hora que aproveita para ver a programação das emissoras locais, abrindo mão dos programas da TV a cabo. Zambon tem quatro TVs em casa: duas em cores (uma de 37 polegadas e outra de 20 polegadas) e duas em PB -de 17 e 14 polegadas.
"Não vejo diferença entre elas. Às vezes, até me esqueço de que estou vendo um programa em preto-e-branco. E os filmes clássicos em preto-e-branco dos quais eu gosto tanto? O que importa para mim é o conteúdo. Minha TV da cozinha tem som e imagem bem nítidos e é uma relíquia", conta ela aos risos, salientando que já a ofereceu, "por empréstimo", a pessoas que a recusaram.


Texto Anterior: Colecionador mantém museu de TVs
Próximo Texto: Análise: Distribuição de aparelhos marca desigualdade social e regional
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.