São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

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ABL faz eleição hoje com recorde de candidatos

19 inscritos disputam a cadeira fundada por Machado de Assis e vaga desde a morte da escritora Zélia Gattai, em maio

Antônio Torres, Luiz Paulo Horta, Isabel Lustosa, Ziraldo e Fábio Lucas são os favoritos; salário é de R$ 15 mil e sessão semanal rende R$ 1.500


DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

Com 19 candidatos inscritos, será realizada hoje a mais disputada eleição da história da Academia Brasileira de Letras.
Os acadêmicos não arriscam prognósticos para o favorito à vaga deixada após a morte de Zélia Gattai, em maio, e temem até que a votação, marcada para as 16h, termine sem vencedor. Em jogo, estão o prestígio de assumir a cadeira que já foi de Machado de Assis e o salário de R$ 15 mil mensais, acrescido do jeton de R$ 1.500 por presença a cada reunião semanal.
Para ser eleito, o novo integrante precisará do apoio de pelo menos 20 dos atuais 39 imortais. No total, podem ser realizados até quatro escrutínios. Se ao final nenhum conquistar a maioria, a eleição é encerrada e tem início nova fase de inscrições. Segundo acadêmicos ouvidos pela Folha, os votos estão divididos entre cinco candidatos: Antônio Torres, Luiz Paulo Horta, Isabel Lustosa, Ziraldo e Fábio Lucas.
"A Academia não marchou para um candidato único. Há pelo menos cinco com votos. É possível até mesmo que nenhum obtenha maioria", afirma Lêdo Ivo, que ocupa a cadeira de número 10. Antônio Olinto, da cadeira 8, também prevê uma votação difícil. "A concorrência está tão forte que até candidatos que mereciam estar na Academia abriram mão de concorrer, como foi o caso do [Reynaldo] Valinho Alvarez", diz. Além do poeta, desistiram da disputa Ricardo Cravo Albin, Cleonice Berardinelli e Jeff Thomas.
Para Alberto da Costa e Silva, da cadeira 9, o número recorde de inscritos é explicado pelo longo período sem eleições. "Havia uma demanda reprimida", diz. Desde 20 de junho de 2006 as portas do Petit Trianon carioca estavam fechadas para novos sócios.
Outro fator importante é o peso da cadeira, que adquire ainda mais charme no ano em que se comemora o centenário da morte de Machado de Assis. Além dos cinco favoritos, outros 14 sonham em assumir a cadeira 23. São pessoas como o aposentado paranaense Paulo Hirano, 72, que neste ano preencheu sua nona ficha de inscrição. "Tudo que consegui na vida foi através da persistência. Não vou desistir."
Para mostrar serviço, ele diz enviar à ABL cópias de cartas e artigos de sua autoria publicados na imprensa. Também mandou um exemplar de seu único livro publicado, "Extroversão", de 1979, assim como impressões caseiras dos outros 47 títulos que estão na gaveta.
Felisbelo Silva, 77, que diz ter 400 livros publicados e outros 60 à espera de editora, é outro integrante dos "azarões". Na quinta candidatura, diz esperar que os acadêmicos reconheçam sua "bagagem literária". "Tem candidato que não tem nem dez livros. Eu já tenho 460 e pretendo chegar aos 500", afirma. O maior sucesso, segundo ele, é "Como Redigir Procurações, Contratos, Distratos, Requerimentos, Atestados". "Já está na praça há mais de 30 anos", orgulha-se.


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