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Documentário recupera obra do produtor que registrou 55 anos de SP em cinejornais
Quase memória
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Por haver nascido junto com o
ano de 1919, seguindo a linha de
sucessão em terras brasileiras dos
empreendedores e coléricos imigrantes italianos da família Carbonari, ele recebeu o nome de Primo (primeiro).
Dezessete janeiros mais tarde,
na segunda metade da década de
30, Primo Carbonari direcionava
uma câmera de cinema (o caçula
das artes) para o canteiro de obras
no qual seria erguido o aeroporto
de Congonhas (SP).
Começava sua carreira de produtor e documentarista de uma
São Paulo retratada em quase
3.000 edições do cinejornal "Amplavisão", extinto nos anos 90,
quando também chegou ao fim a
Embrafilme, que foi banida por
decreto pelo então presidente
Fernando Collor de Mello (1990-1992).
Produtora e distribuidora de filmes brasileiros, a Embrafilme era responsável pela liberação de recursos para o mercado cinematográfico e geria seu modelo de funcionamento, que incluía a obrigatoriedade de exibir nos cinemas
curtas e cinejornais, antes das sessões de filmes.
A mágoa que sente por Collor
de Mello é uma das revelações de
Carbonari, 84, ao produtor Eugênio Puppo e ao crítico Jean-Claude Bernardet, na entrevista ao lado.
Dispostos a uma revisão crítica
do acervo de Carbonari (quase
8.000 rolos de filmes, cuja metade
diz respeito a personagens e fatos
de São Paulo), Puppo e Bernardet
preparam o documentário "Ampla Visão de São Paulo".
A estréia do filme está prevista
para 4 de dezembro de 2004, com
uma sessão ao ar livre, no vale do
Anhangabaú, no encerramento
das comemorações pelos 450
anos da cidade.
Aperitivo
Com um levantamento preliminar dos arquivos de Carbonari, os
diretores produziram um curta-metragem de oito minutos que
será um aperitivo do longa, cuja
produção tem a parceria dos Estúdios Mega (onde os filmes de
Carbonari serão restaurados) e o
apoio da Cinemateca Brasileira e
da Escola de Comunicações e Artes da USP.
No curta, Bernardet e Puppo
exercitam os elementos com os
quais pretendem ressaltar os méritos do acervo de Carbonari (há
muitos registros históricos, como
o da posse de Adhemar de Barros
no governo do Estado, em 1962, e
o de seu enterro, em 1969) e sublinhar com um olhar crítico certa
tendência do produtor ao elogio
dos personagens endinheirados
que contratavam seus serviços.
Era prática dos cinejornais exibir
matérias patrocinadas.
Recursos
Imagens que se sucedem em
cascata e em múltiplos quadros
na tela, repetições (de um mesmo
gesto por diferentes pessoas, por
exemplo), fragmentações (de um
discurso) e contraposições (de fatos retratados em abordagens
unilaterais pelo cinejornal) são recursos de que Puppo e Bernardet
lançarão mão.
Buscando dar a um filme composto por imagens de arquivo
uma personalidade contemporânea, os diretores convidaram para
colaborar em seu desenho gráfico
os artistas plásticos Ricardo Carioba, Leandro Lima e Pedro di
Pietro. O músico Amon Tobin assina a trilha do curta e deve levar
também para o longa o trabalho,
em que recheia a música eletrônica de influência erudita.
Regina Carbonari, filha de Primo Carbonari e curadora de seu
acervo, idealizou (ao lado de Puppo) o projeto, que não se restringe
à produção do documentário.
Compreende ainda a catalogação
de todo o acervo de Carbonari e a
disponibilização de trechos em
um site, o restauro do material
ameaçado de deterioração e a melhoria das condições de armazenamento do conjunto.
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