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"Depois que filmei, acabou", diz Carbonari
EUGÊNIO PUPPO
JEAN-CLAUDE BERNARDET
ESPECIAIS PARA A FOLHA
Um dos pioneiros na interface do cinema com o jornalismo, Primo Carbonari, 84, hoje,
não dá entrevistas.
O recolhimento é um cuidado que Regina Carbonari adota
para preservar o pai de possíveis dissabores em consequência de suas declarações, que
continuam carregadas de ênfase, juízos definitivos e sentimentos extremados, embora,
às vezes, careçam de precisão,
quando invocam memórias
distantes.
Os trechos a seguir fazem
parte de uma conversa com o
produtor Eugênio Puppo, 38, e
o crítico Jean-Claude Bernardet, 64, autorizada (pela filha) e
conduzida (pelo pai) como
uma exceção.
Pergunta - Qual é sua origem?
Primo Carbonari - Nasci na
Barra Funda. Por parte do meu
pai, os Carbonari foram ditadores. Foi um Carbonari quem
cortou a cabeça da rainha da
França, Maria Antonieta. Havia Carbonari também em Veneza. Os que vieram para o
Brasil eram maçons. Por parte
da minha mãe, eram sicilianos.
Dos que vieram para o Brasil,
uma parte foi trabalhar na Matarazzo, outra foi fazer estaleiro
no Rio.
Pergunta - Quais são as coisas
mais importantes que filmou?
Carbonari - A morte de Getúlio Vargas (1883-1954), não é
importante? A morte de Costa
e Silva (1899-1969), não é importante? A morte dos generais, de todos os governadores.
Pergunta - As mortes são as
coisas mais importantes?
Carbonari - Por uma razão só,
as mortes fazem parte de uma
história.
Pergunta - Que filmagem lhe
deu mais prazer?
Carbonari - Depois de filmado, para mim, acabou. Começo
a pensar em outra coisa.
Pergunta - Mas não há uma de
que goste mais?
Carbonari - Tive 60 prêmios
do Instituto Nacional de Cinema Educativo, o que você quer
mais? Derrotei todos. Tudo o
que vocês podem imaginar na
vida eu tive. Glórias, nunca tive
derrota. Minha única derrota
foi quando Collor de Mello assumiu a Presidência. Por uma
razão só, ele estava muito ligado com o pessoal de TV. A única pessoa que segurava a situação entre a TV e o cinema era
eu. Perdi naquele dia da extinção da Embrafilme... Tinha 65
empregados. Tive de vender
propriedades, perdi US$ 30 milhões.
Eugênio Puppo é produtor de cinema; e Jean-Claude Bernardet é cineasta e crítico
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