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MÚSICA
Filme, produzido por Walter Salles e Nelson Motta para TV francesa, esperou mais de década para ser lançado
Chico rememora o País da Delicadeza
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Lula foi eleito presidente, não
fez quase nada e o que fez repetia o anterior. Bush invadiu o
Iraque e seu filho invadiu o Iraque. Michael Jackson ficou branco, foi acusado de molestar menor e preso num Estado governado por Arnold Schwarzenegger.
Quando dirigiram documentário sobre os 25 anos de carreira de
Chico Buarque para uma TV
francesa entre 1989 e 90, que depois seria exibido na extinta TV
Manchete, Walter Salles e Nelson
Motta poderiam desconfiar que
as coisas piorariam no futuro,
mas assim já é ridículo.
Com esse espírito, de viagem ao
passado, a um passado nem tão
distante assim, o DVD "Chico ou
O País da Delicadeza Perdida",
que a BMG põe na praça agora,
quase década e meia depois, em
versão remasterizada coordenada
pelo produtor Vinícius França, já
vale muito, muito a pena.
Só que ainda tem a qualidade
das músicas -Chico enfileira na
linha de pênalti obras como "Brejo da Cruz", "Joana Francesa",
"Samba do Grande Amor",
"Olhos nos Olhos", que vai convertendo em um gol atrás do outro interpretações feitas à época,
em apresentação na Fundição
Progresso, no Rio-, o engenho
do roteiro, a câmara original.
É quase covardia.
O País da Delicadeza Perdida do
título já não existia em 1989, segundo o documentário. É o Brasil
da bossa nova, do doce balanço a
caminho do mar, do cinema novo, de JK, quando tudo ainda parecia que seria.
Essa tese é defendida pelos diretores e pelo roteirista entremeando-se imagens do show de Chico
com cenas dos filmes para os
quais fez música, takes do Rio, um
documentário dos anos 80 sobre a
avenida Brasil carioca e a voz em
"off" de Paulo José.
Tudo termina com "Bye Bye,
Brazil", aquela do "eu vi um Brasil
na TV" e "aquela aquarela mudou", talvez a música em que Chico Buarque melhor define e resume o país, não o da delicadeza,
mas o que viria a ser.
Este nosso.
Chico ou O País da Delicadeza Perdida
Produção: França/Brasil, 2003
Direção: Walter Salles e Nelson Motta
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 44,90 (73 min.)
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