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"É um tema que mexe comigo", diz diretora
JEAN-LUC DOUIN
DO "MONDE"
Com uma história articulada
em torno da relação entre um pai
e uma filha, "Questão de Imagem", da francesa Agnès Jaoui,
venceu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes deste
ano. Na entrevista abaixo, a cineasta fala sobre o filme, seus
traumas e sua imagem.
Pergunta - O filme se articula em
torno da relação entre pai e filha.
Por que essa escolha?
Agnès Jaoui - É um tema que
mexe comigo. Há dez anos, Jean-Pierre Bacri e eu já pensávamos
em tratar esse tema no teatro, falar desses pais que refazem a vida
com uma mulher que tem a idade
de sua filha e das dificuldades que
isso pode gerar. É evidente que
nossos comportamentos decorrem da maneira como "administramos" as relações em nossas famílias. Se não conseguimos dizer
"não" a nosso pai, é pouco provável que consigamos dizer "não" a
um chefe, a um superior ou mesmo a qualquer pessoa que represente um poder.Tudo isso passa
primeiramente pelo olhar do pai.
O filme fala dessa contradição e
de nossa capacidade de resistência às segregações sociais.
Pergunta - No filme você interpreta uma professora de canto,
mas o personagem com que você
mais se identifica não seria Lolita?
Jaoui - Confesso que sim. Assim
como Lolita, eu me sentia pouco à
vontade comigo mesma. Também me inspirei em minha melhor amiga, que, por temperamento, assumiu seu lado próprio.
Quanto a mim, eu vivia encerrada
na sedução.
Pergunta - Encerrada por quem,
pelo quê?
Jaoui - Sempre fui prisioneira
dessa contradição. Fascinada pela
beleza, pelo desejo de agradar, e
revoltada por essa forma de escravidão, motivada por um desejo de
desabrochar, de desenvolver outras qualidades em mim -tudo
aquilo que vem do trabalho, do
talento, do ser.
Pergunta - Por que você, como
Lolita, decidiu cantar?
Jaoui - Aos 15 anos fiz o curso
Florent, depois freqüentei diversos outros cursos de arte dramática, sentindo um desejo muito
grande de reconhecimento. A cada seis meses eu comparecia a um
teste de elenco, e me lançavam
um olhar que me fazia compreender que jamais conseguiria. Me
recordo de ter voltado para casa
debulhada em lágrimas, um dia, e
de minha mãe me ter dito: "Mas
você não é um pedaço de carne!".
Aos 17 anos me matriculei num
conservatório de canto, onde comecei a respirar, em sentido literal e figurado.
Pergunta - Podemos falar de terapia?
Jaoui - O termo é um pouco forte, já que, de qualquer maneira,
implica um trabalho feito com você mesmo. Depois de certo tempo, voltei a sofrer um bloqueio. Eu
percebi que o problema vinha
também de mim mesma e, então,
comecei uma psicanálise. Mas é
um lugar privilegiado, onde se
aprende o rigor, se aprende a tomar seu tempo e onde ninguém
dá bola para seu físico. Aprendi o
que é a harmonia, o que se pode
fazer de mais belo quando os seres humanos estão em grupo.
Pergunta - As pessoas comparam
você a Claude Sautet. Você entende a razão disso?
Jaoui - No início eu não entendia, a não ser pelo fato de que, como ele, eu jogo com muitos personagens e escrevo muitas cenas
em cafés. Depois disso, revi "César et Rosalie" e percebi uma dimensão social que antes me passara despercebida: o personagem
de Yves Montand, que não vem
do mesmo meio que os outros.
Pergunta - Como gostaria de ser
percebida?
Jaoui - Digamos que, da mesma
maneira que fui uma garotinha e
uma adolescente que se emocionou com Anne Frank ou Jane
Austen, também eu, por minha
vez, gostaria de ajudar as pessoas
a se sentirem menos sozinhas,
menos diferentes.
Tradução de Clara Allain
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