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"QUESTÃO DE IMAGEM"
Agnès Jaoui recria com moralismo retrógrado fábula do patinho feio
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de
Cannes deste ano, "Questão de
Imagem", ao contrário do que o
título sugere, é um filme em que a
imagem não tem qualquer autonomia em relação ao texto.
Tudo o que se vê na tela é atrelado aos diálogos e à orquestração
de dezenas de personagens em
torno de uma questão central. No
fundo, Agnès Jaoui (diretora, atriz
e, ao lado do marido, Jean-Pierre
Bacri, co-roteirista), filma (bons)
diálogos, em uma versão um pouco mais sofisticada de um bom
programa de televisão.
Não faltam, portanto, clichês.
Agnès Jaoui simplesmente recria,
uma vez mais, a fábula do patinho
feio, com uma roupagem contemporânea. Faz isso com simpatia e algum humor, mas flertando
perigosamente com um moralismo retrógrado.
A ditadura do corpo na sociedade moderna massacra a auto-estima da protagonista, a jovem gordinha Lolita (Marilou Berri). O talento para o canto, que ela desenvolve com a professora Sylvia
(Jaoui), não chega a aliviar sua
aflição maior: a indiferença do
pai, o escritor egocêntrico Étienne
Cassard (Bacri).
Como em "O Gosto dos Outros", longa-metragem anterior
da diretora, a trajetória psicológica independente desses três personagens e de outros tantos vai se
cruzar, caminhando para o inevitável final catártico.
Seguindo uma estrutura muito
parecida, "O Gosto" apresentava
seus personagens de maneira um
pouco mais original. Aqui, Jaoui
se deixou guiar por caminhos ainda mais convencionais, que em
nenhum momento são criticados.
O tom final do filme, portanto, é
um tanto óbvio, "revelando" os
valores fúteis de uma sociedade
baseada em estereótipos físicos.
Nada que já não tenha sido dito.
Questão de Imagem
Comme un Image
Direção: Agnès Jaoui
Produção: França, 2004
Com: Marilou Berri, Agnès Jaoui, Jean-Pierre Bacri
Quando: hoje, às 22h, no Espaço
Unibanco; outras exibições nos dias 31 e
1º/11
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