São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003 |
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27ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP Realizador japonês Yoshishige Yoshida conversa com o colega brasileiro Carlos Reichenbach Mestre Yoshida
SILVANA ARANTES CARLOS REICHENBACH - "Sei que
viveu na França e estudou filosofia. Queria saber a que ramo da filosofia se dedicou e se há em seus
filmes o vínculo com o existencialismo que aparentam ter". YOSHISHIGE YOSHIDA - "Quando
fui para a França, em 1964, havia
dirigido seis filmes. Estudei literatura francesa. Quando li a obra de
Jean-Paul Sartre (1905-1980), tive
a impressão de que minha experiência se encaixou no pensamento dele. Vivi a guerra aos 12 anos.
A consciência da morte me acompanha desde então". REICHENBACH - "O suicídio é um
tema presente desde seus primeiros filmes. "Sede de Sangue" (1960)
foi um que me impressionou
muito. Parece-me que o suicídio
do protagonista é um ato de revolta. Você, como eu, enxerga esse viés niilista em sua obra?". YOSHIDA - "Lembre-se que, no
Japão, não há uma religião como
o catolicismo, que considera o
suicídio um pecado. É mais natural pensar que, quando você chega a um limite intransponível, a
solução é a morte. Nos Estados
Unidos e na Europa, as pessoas tinham a chance de tentar ir embora. No Japão, uma ilha de estrutura feudal, a solução era o suicídio.
Tratei disso nos meus filmes porque é a realidade, mas não considero o suicídio uma coisa bela". REICHENBACH - "Vejo duas fases
em sua carreira. A primeira é a
dos filmes mais politizados. A segunda, a dos filmes femininos.
Concorda com essa distinção?". YOSHIDA - "Concordo que atravessei fases diferentes em 40 anos
de carreira. Nos primeiros anos,
meus filmes tratavam da sociedade, do país. Depois, passei a tratar
do tema da mulher, porque queria fazer a crítica da sociedade
machista. O filme que melhor representa essa fase é "A História Escrita com Água" (1965). Nele, o tema do incesto surge não para causar escândalo, mas como representação da estrutura paternalista
da sociedade, cuja figura máxima
é o imperador. Quando uma mulher confronta seu pai, é como se
confrontasse a figura mais poderosa, a do imperador". REICHENBACH - "Sempre me pareceu mesmo ser sua intenção lidar com temas-tabu, mas sem
buscar o escândalo. Para mim,
"Labareda" (67), sobre inseminação artificial, é o filme que condensa sua assinatura -tema-tabu tratado com olhar de filósofo". YOSHIDA - "Quis tratar da inseminação artificial porque ela representa a marginalização do pai.
Numa relação que se dá só entre
mãe e filho, o pai está excluído". REICHENBACH - "Quando você
começou, era o mais jovem cineasta no Japão. Como a produtora Shochiku confiou em você?". YOSHIDA - "Em 1958, houve o
boom da TV no Japão, e o público
de cinema despencou. Seis grandes empresas cinematográficas
entraram em crise e começaram a
apostar em talentos jovens. [Yasujiro] Ozu [1903-1963] teve dificuldades para filmar. [Akira] Kurosawa [1910-1998] demorava até
um ano para fazer um filme". |
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