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TELEVISÃO
Autor de "Senhora do Destino" compara o personagem Naldo a Garotinho "em seus momentos de megalomania"
Novela vai criticar políticos da Baixada
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Autor da novela "Senhora do
Destino" -que estréia amanhã
na Globo-, Aguinaldo Silva não
segura comentários irônicos em
relação ao ex-governador e atual
secretário de Segurança do Rio de
Janeiro, Anthony Garotinho.
Conhecido por rechear suas histórias com críticas políticas, Silva
mais uma vez cria um personagem para dar vazão a analogias
com poderosos da vida real.
Em entrevista à Folha, criticou
espontaneamente Garotinho ("se
ele virar presidente, que Deus nos
livre e guarde..."). Apesar disso,
diz que Naldo (Eduardo Moscovis), um dos protagonistas de "Senhora do Destino", será um político "menor" que o ex-governador. "O que quero mesmo é, através dele, mostrar a praga do político clientelista, aquele que prolifera nas áreas menos favorecidas,
principalmente no cinturão em
torno de grandes metrópoles."
Mas afirma que, assim como
Garotinho, Naldo, "em seus momentos de megalomania", também sonha com a possibilidade
de chegar ao Planalto Central.
A assessoria de imprensa do ex-governador disse à Folha que ele
não iria comentar as declarações
de Silva. Segundo a assessoria,
"Garotinho é totalmente a favor
da liberdade de expressão e respeita a ficção". Na visão do ex-governador, de acordo com sua assessoria, as críticas do autor são
fruto da democracia, e "a população se encarrega de julgar".
Aguinaldo Silva afirmou que
seu "problema" com Garotinho
"é porque ele tem um deus pessoal, que cismou de fazê-lo presidente da República". "Esse deus
dele, que chamo de Deus Cobiça,
não tem nada a ver com o Deus
dos outros brasileiros. Mas reconheço que é um direito pessoal do
deus de Garotinho querer elegê-lo. É para que esse milagre não se
realize que todos devemos rezar."
O personagem Naldo, segundo
Silva, é daquele tipo "que distribui
benesses (pagas com o dinheiro
dos outros, é claro) para posar de
benfeitor do povo". "Na Baixada
Fluminense, onde o núcleo central da trama está situado, existe
um desses em cada esquina."
Em pleno ano de eleições municipais, Silva usará a novela para
apontar técnicas eleitoreiras dos
candidatos. "De repente, todos
passaram a colocar outdoors nas
ruas parabenizando mães no Dia
das Mães, pais no Dia dos Pais.
Claro que a troca das mensagens
custa caro. Até que um deles mandou encher a Baixada de outdoors
em que se lê: "Se hoje é o seu dia,
receba os parabéns do seu amigo
Fulano de Tal". Não é gênio?"
Com um roteiro que pretende
"resgatar valores morais", "Senhora do Destino" reserva várias
lições ao político do mal. "Ele vai
levar muitas traulitadas [pauladas] por causa disso", diz Silva.
Lei eleitoral
Especialmente a partir do próximo semestre, o autor deverá ter
cuidado com regras da lei eleitoral. Ele diz não ter recebido ainda
recomendações da Globo, que
elaborou um manual sobre o assunto em 2002. "Sei, por experiências anteriores, que uma novela que vai ao ar no período eleitoral tem de tratar o assunto de
modo que não pareça favorecer
este ou aquele candidato."
O autor diz que, "como cidadão", tem suas preferências políticas. "Mas não posso externá-las
no trabalho. Como não consigo
evitar a crítica aos políticos nas
novelas, trato de fazê-la de modo
geral e elejo como alvo essa figura
nefanda que há em todo escaninho público do país: o demagogo,
populista, falso amigo do povo."
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