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MODA
Músico baiano vetou uso de sua obra em desfile do estilista mineiro Ronaldo Fraga por falta de acordo quanto a cachê
Homenagem a Tom Zé esbarra em direitos autorais
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Empenhado em ajudar a derrubar muros que separam os planetas erudito e popular, o estilista
mineiro Ronaldo Fraga, 35, elegeu o tema-emblema-personagem Tom Zé para voltar ao assunto em seu desfile na São Paulo
Fashion Week, no último dia 19.
Batizou de "São Tom Zé" o desfile que se inspiraria no músico
baiano e tomaria suas canções como trilha sonora. "Ele é o genuíno
e talvez último tropicalista vivo",
Fraga provoca, para então explicar: "O que me pegou mais é que
ele é um dos poucos artistas brasileiros que dão estatuto de arte e
vanguarda à cultura popular".
Receoso de aceitar a moda como uma forma efêmera de arte,
trombou no muro do lado de lá.
Seu desfile não se chamou "São
Tom Zé", mas "São Zé". As músicas da trilha não foram do bardo
tropicalista, mas de Hermeto Pascoal e Cordel do Fogo Encantado.
É que Tom Zé pediu, a duas semanas do desfile, R$ 30 mil pelo
uso de suas músicas. "Não entendi, eu estava fazendo uma homenagem. Fiquei muito triste, mas
respeitei. Não adiantaria eu discutir que arte é arte e que, uma vez
que ele fez uma música, não é
mais dono dela. Ele é gênio, pode
fazer o que quiser." O uso do nome também foi desautorizado.
"Isso me colocou no lugar de
um aproveitador, me criou um
desconforto muito grande. Eu
não pagaria [cachê], não era esse
o ponto", conclui, afirmando que
recolheria o dinheiro dos direitos
pelas músicas. Achou solução intermediária, e a atração entre arte
e moda acabou em romance frustrado, em sexo interrompido.
Saindo da circunferência dos
conflitos pessoais, Fraga expõe
suas razões para querer pesquisar
universos complexos de raiz brasileira como os de Tom Zé ou, em
anos anteriores, Lupicinio Rodrigues na voz de Jamelão ou temas
religiosos na voz da conterrânea
Fernanda Takai, do Pato Fu.
"O desafio de minha geração de
estilistas é a reinvenção da memória iconográfica brasileira. Tanto
tem se falado de uma identidade
brasileira, a moda pode tirar muito daí", formula, defendendo que
o que faz quer distância de uma
"moda típíca" ou "folclórica".
"O mundo está morrendo de
vontade e inveja do nosso humor
e do nosso ritmo. Tom Zé é um
precursor disso", diz, afirmando
que o desacordo com o músico
não modifica seu respeito por ele.
A Folha procurou o presidente
da gravadora de Tom Zé (Trama),
João Marcello Bôscoli, defensor
habitual da interseção música-moda, mas ele preferiu não comentar o conflito e sua tentativa
frustrada de mediar um acordo.
Procurou também Tom Zé, que
não quis conversar com o jornal
nem responder a um questionário enviado por e-mail. Em vez
disso, escreveu o texto abaixo.
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