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Crítica/cinema/"Dot.com"
Comédia reforça clichês que associam Portugal ao atraso
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Num antigo filme muitas vezes reprisado na
"Sessão da Tarde" um
país minúsculo declarava guerra aos EUA e invadia Nova York
sem que os norte-americanos
percebessem o conflito. Com a
invasão e a ameaça de destruição, o país entrava no mapa do
mundo. A situação de "O Rato
que Ruge" se repete na história
narrada pelo português Luís
Galvão Teles em "Dot.com".
Atualizada, a trama de
"Dot.com" trata, em ritmo de
comédia, da disputa entre uma
aldeia perdida nos confins de
Portugal e uma multinacional
espanhola pelo domínio do nome Águas-Altas na internet.
Os habitantes da aldeia querem manter o site e o direito ao
nome. Estão em discussão a
tradição versus comercialização e dominação e a histórica
contraposição ibérica do grande império ao pequeno país.
Teles joga com habilidade os
qüiproquós da trama, mas neutraliza a dimensão política por
meio de enlaces românticos entre os dois lados em disputa.
O filme brinca com slogans
como o de "aldeia global",
quando a resistência dos moradores chama a atenção da mídia, que acaba convertendo o
anedótico em problema nacional com repercussão internacional e manifestações de apoio
de militantes anti-globalização.
"Dot.com" tende à caricaturização dos tipos. No esforço de
manter o humor, reforça clichês que associam os portugueses ao atraso, do qual só sairiam
sob a força da esperteza.
Um golpe de astúcia ao final
eleva os moradores à dimensão
de seus opositores e garante a
entrada no mundo modernizado, sob o lema "vence quem sabe levar vantagem em tudo".
DOT.COM
Produção: Portugal, 2007
Direção: Luís Galvão Teles
Com: João Tempera, María Adánez,
Marco Delgado, Isabel Abreu
Onde: em cartaz no Espaço Unibanco Pompéia e Frei Caneca Unibanco
Arteplex 8; livre
Avaliação: regular
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