São Paulo, sábado, 28 de junho de 2008

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Crítica/cinema/"Dot.com"

Comédia reforça clichês que associam Portugal ao atraso

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Num antigo filme muitas vezes reprisado na "Sessão da Tarde" um país minúsculo declarava guerra aos EUA e invadia Nova York sem que os norte-americanos percebessem o conflito. Com a invasão e a ameaça de destruição, o país entrava no mapa do mundo. A situação de "O Rato que Ruge" se repete na história narrada pelo português Luís Galvão Teles em "Dot.com".
Atualizada, a trama de "Dot.com" trata, em ritmo de comédia, da disputa entre uma aldeia perdida nos confins de Portugal e uma multinacional espanhola pelo domínio do nome Águas-Altas na internet.
Os habitantes da aldeia querem manter o site e o direito ao nome. Estão em discussão a tradição versus comercialização e dominação e a histórica contraposição ibérica do grande império ao pequeno país. Teles joga com habilidade os qüiproquós da trama, mas neutraliza a dimensão política por meio de enlaces românticos entre os dois lados em disputa.
O filme brinca com slogans como o de "aldeia global", quando a resistência dos moradores chama a atenção da mídia, que acaba convertendo o anedótico em problema nacional com repercussão internacional e manifestações de apoio de militantes anti-globalização. "Dot.com" tende à caricaturização dos tipos. No esforço de manter o humor, reforça clichês que associam os portugueses ao atraso, do qual só sairiam sob a força da esperteza.
Um golpe de astúcia ao final eleva os moradores à dimensão de seus opositores e garante a entrada no mundo modernizado, sob o lema "vence quem sabe levar vantagem em tudo".


DOT.COM
Produção:
Portugal, 2007
Direção: Luís Galvão Teles
Com: João Tempera, María Adánez, Marco Delgado, Isabel Abreu
Onde: em cartaz no Espaço Unibanco Pompéia e Frei Caneca Unibanco Arteplex 8; livre
Avaliação: regular


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