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Arquitetura do sagrado
Na manhã da última segunda-feira, 241 Sant'Anas saíram de
uma fazenda em Sete Lagoas, interior de Minas Gerais, para uma
longa viagem de caminhão até
SP. É a segunda vez que as imagens, que representam Ana, mãe
de Maria, avó de Jesus, deixam
sua morada. A partir de amanhã,
elas estarão expostas na Pinacoteca do Estado.
Tirá-las da fazenda não é fácil.
"Dá um medo danado! É como
mandar os filhos para estudar em
outra cidade", diz a colecionadora Angela Gutierrez, dona das peças -que só haviam deixado o
"lar" antes para uma exposição
na Bahia.
Em primeiro lugar, é preciso
um seguro. No caso, de R$ 4,9
milhões, do Bradesco. O motorista que trouxe as santas a São
Paulo andou a 90 km/h, parou
cinco vezes para telefonar a SP e
foi monitorado por satélite. A
temperatura no interior do caminhão era de 22º. As santas (dos
séculos 17, 18 e 19, adquiridas por
Angela de pessoas anônimas do
interior do Brasil) foram embrulhadas em papel de seda e manta
de espuma. "Elas precisam respirar, coisa que o plástico-bolha
não permite", explica Alessandra
Rosso, 38, especialista que montou a exposição. Para tocar nas
santas, a equipe dela usou luvas
(de borracha, algodão e suedine)
para evitar que a gordura e o suor
das mãos manchassem as peças.
Alessandra trabalha com seis
pessoas. Mergulhadas em museus, elas às vezes vivem aventuras, como quando acompanham
peças do Brasil ao exterior em
aviões de carga. Acham uma delícia. "Tem cozinha self-service e
poltrona de primeira classe", diz
Alessandra.
Angela Gutierrez acompanhará
a abertura da exposição. Sua paixão por Sant'Anas despertou
quando, aos 14 anos, ela ganhou
do pai, Flávio, um oratório entalhado em goiabeira. Uma das
imagens favoritas da coleção pertenceu ao tio-avô de Angela, Placido Gutierrez. A cadeirinha da
santa é removível. "Eu brincava
como se ela fosse boneca. Até que
meu tio-avô se desfez da peça."
Há um ano, Angela reencontrou
a imagem por meio de um antiquário. "Diz aí se não foi ela que
quis voltar para mim?"
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