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Público "toma controle" de "American Idol"
KATE AURTHUR
DO "NEW YORK TIMES"
Como se precisássemos de um
lembrete de que o sistema eleitoral norte-americano é imperfeito.
Milhões de espectadores de
"American Idol" votam, por telefone e mensagens de texto, nos
seus concorrentes favoritos. Mas
na presente temporada as votações foram tão volúveis e empurraram o programa para tão longe
de seu propósito de encontrar o
melhor cantor ou cantora desconhecido/a e fazer dele/a um astro,
que até mesmo os jurados criticaram os resultados.
Quando La Toya London, 25,
uma cantora de estilo parecido
com o de Anita Baker, foi eliminada da competição em 12 de maio,
o jurado Randy Jackson classificou o resultado como "farsa".
Em abril, Simon Cowell, o mais
desbocado dos três jurados (que
selecionam o conjunto inicial de
concorrentes, mas não controlam
a escolha do vencedor), disse:
"Não me importo mais com o
programa deste ano". E até mesmo Paula Abdul, a jurada que
nunca tem algo de negativo a dizer, disse em entrevista que não
seria capaz de prever quem sairia
vitorioso no programa final da
temporada, na quarta-feira, "porque jogaram a lógica pela janela".
A candidata Fantasia Barrino foi a
vencedora dessa edição.
Os dois episódios semanais do
programa ainda foram líderes em
audiência, mas os índices são apenas parte da fórmula. Mais do que
um programa de calouros, a idéia
é que a série funcione como o grupo de discussão mais público do
mundo, espécie de teste para descobrir que cantores se saem melhor junto à audiência.
O método funcionou, no passado. Kelly Clarkson, vencedora da
primeira temporada, Ruben
Studdard, vencedor da segunda, e
até mesmo Clay Aiken, derrotado
por Studdard, venderam milhões
de discos. Mas neste ano diversos
cantores excelentes e adaptados
ao formato comercial das rádios
foram eliminados nas votações.
Em seus lugares, gente desafinada
e exagerada avançou.
Se os finalistas de "American
Idol" não tiveram talento, o que
isso significa para a premissa do
programa e para o seu futuro?
Consideremos um procedimento adotado nos demais "reality shows": "Big Brother" começou permitindo que os telespectadores decidissem o destino dos
concorrentes, mas mudou de
idéia depois de uma primeira
temporada desastrosa, em que
qualquer candidato com personalidade era eliminado. Em "The
Apprentice", os produtores Mark
Burnett e Donald Trump não deixaram nada ao acaso -demitiam
participantes a torto e a direito, de
acordo com o que consideravam
ser melhor para o programa.
Assim, por que "American
Idol" deixa seu destino nas mãos
do público? Quem são essas pessoas, e em que baseiam seus votos? Serão conhecedores de música? Fãs votando pelo participante
com quem compartilham uma cidade natal? Meninas de 12 anos
encantadas com um concorrente?
Mas nem tudo foi ruim. A temporada teve pontos altos, tanto
em termos de coisas tão ruins que
se tornam boas quanto em termos
de qualidade genuína. Assistir a
John Stevens, 16, com um comportamento e voz anacrônicos
inspirados pelo "Rat Pack" de
Frank Sinatra, cantar acompanhado pelo Miami Sound Machine foi mais engraçado do que
qualquer episódio de "Friends".
"American Idol" não pára de
crescer em popularidade, e já que
o formato do programa é simples
seria fácil alterar a fórmula para a
próxima edição: talvez uma mudança de pessoal entre os jurados?
Ou dar aos jurados o poder de
proteger concorrentes contra o
voto popular, ocasionalmente?
"American Idol" costumava
exibir grande senso de justiça em
termos de cultura pop. Mas o programa perdeu essa inocência.
Tradução Paulo Migliacci
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