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TELEVISÃO
Série do mestre do medo adapta sadismo do diretor Lars von Trier
Stephen King mergulha em terror hospitalar
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
Hospitais não são os lugares
mais agradáveis do mundo para
passar o dia. Imagine então se,
além do cheiro de morte e doenças característicos, espíritos de
criancinhas mortas resolvessem
passear pelos corredores enquanto funcionários e médicos sádicos
decidissem perturbar a paz dos
pacientes. Para o escritor Stephen
King, esse imaginário parque de
diversões do terror serve de locação para a série "Kingdom Hospital", que estréia amanhã no AXN.
Esqueça, portanto, o universo
de novelão de séries bem-sucedidas da TV como "E.R." e
"Scrubs". É o escritor quem produz e escreve esse show de horrores em 13 partes. Mas há mais
mentes e mãos perturbadas por
trás da empreitada: o atual "rei"
do cinema do mal-estar, Lars von
Trier ("Dogville"). Em 1997, enquanto caçava filmes de terror
obscuros em uma loja no Colorado, durante a produção de uma
versão televisiva para "O Iluminado", King esbarrou com um filme
de cinco horas de Von Trier,
"Kingdom" ("Riget", de 1994).
Foi caso de amor -mórbido-
à primeira vista em relação a essa
obra que mistura humor negro e
terror (leia texto ao lado). Logo
em seguida, King entraria em
contato com a Columbia para
comprar os direitos.
"Imediatamente fiquei impressionado com o quanto assustador
era o filme, e como é universal observar o mundo da medicina",
disse King en entrevista à BBC.
No entanto, dois anos mais tarde, King estaria mais perto da
morte e dos hospitais do que poderia imaginar. Enquanto fazia
cooper perto de sua casa, o escritor foi atropelado por uma van.
Entre fraturas na pélvis e na bacia,
ele passaria por mais de cinco
operações e os próximos anos internado para se recuperar.
Desde então, King usa o assunto
de uma maneira ou de outra em
seu trabalho. Em "Kingdom Hospital", o escritor tem um alter ego,
"um dos artista plásticos mais famosos dos EUA", Peter Rickman
(o ator Jack Coleman). Uma das
seqüências iniciais encena o acidente. Segundo o produtor executivo, Mark Carliner, a série reproduz o atropelamento "frame
por frame" -o tipo de van é o
mesmo, assim como a causa (um
motorista que se distrai na direção por ficar brigando com seu
cachorro). A entrada de Peter no
hospital é que desencadeará a trama de "Kingdom".
A série toca no potencial de medo que um simples hospital já
provoca em qualquer pessoa. "Esperamos fazê-lo muito pior", disse King ao "New York Times".
Humor negro
Quem acompanha as obras de
King, seja em livros, seja em adaptações para o cinema, vai reconhecer a recorrência a certos temas. O clima claustrofóbico, assombrado e quase desabitado do
hospital remete ao hotel de "O
Iluminado"; o solo amaldiçoado
-o hospital é construído na mesma área onde, em 1869, uma fábrica foi incendiada, matando várias crianças-trabalhadoras-
lembra "Cemitério Maldito",
além do caráter autobiográfico.
Na série, o artista atropelado
inicialmente tem poucas previsões de não virar tetraplégico.
"Graças a Deus, o que acontece
com ele no final das contas não
aconteceu comigo", disse King.
Do original dinamarquês, o escritor manteve principalmente o
humor negro. Na cena do atropelamento, por exemplo, enquanto
está estatelado no acostamento da
estrada, com o pescoço completamente torcido, Peter "conversa"
com um imaginário tamanduá gigante. "Você está realmente ferrado", "diz" o bicho, que faz aparições esporádicas durante alguns
episódios.
Em uma mistura de seres bizarros de longas de David Lynch e
criancinhas-fantasmas de terror
japonês, surgem personagens como o vigia quase cego do hospital
e uma enfermeira que desmaia
quando vê sangue.
Através do artista plástico semiconsciente, uma vidente (Sally
Druse) começará a perceber a
presença do fantasma de uma garota, que tenta revelar um segredo
no hospital, local que as almas ficam perdidas entre a vida e a
morte. Andrew McCarthy (de "A
Garota de Rosa-Shocking") e
Bruce Davison ("X-Men") também fazem parte do elenco.
Esta não é a primeira incursão
do escritor ao mundo da televisão
-ele já esteve por trás de duas
outras séries, "Rose Red" e
"Storm of the Century". Trata-se,
porém, da primeira vez que ele
adapta algo que não é seu. Nos
EUA, "Kingdom Hospital" estreou pela ABC em março e tem
duração total de 15 horas. O resultado, no entanto, não garantiu
uma segunda temporada.
KINGDOM HOSPITAL. Quando:
amanhã, às 21h, no canal AXN.
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