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Lars von Trier antecipa Dogma em "O Reino"
DA REDAÇÃO
Lars von Trier hoje é sinônimo de sentimentos antiamericanos, um cineasta que
adora fazer mulheres lindas
sofrerem, em filmes como
"Dogville". Se neste último,
com Nicole Kidman, Von
Trier usa certas referências a
filmes de terror -como
personagens chamados Jason e Chuck-, na série "O
Reino" ("Riget"), feita em 94
para a TV dinamarquesa, as
alusões eram mais explícitas.
A trama se passa num hospital mal-assombrado na Dinamarca chamado O Reino,
que se torna símbolo e referência de sofisticação para a
região. Lá pelos idos de 1919,
um dos fundadores assassina sua filha ilegítima.
O espírito da garota e outros fantasmas irão perturbar o cotidiano do hospital.
Não que "O Reino" seja freqüentado por pessoas ditas
normais, pelo contrário, já
que estamos falando de um
filme de mais de quatro horas de Von Trier.
Certos preceitos que mais
tarde tornariam seu Dogma
95 conhecido no mundo inteiro ajudaram a tornar a
produção ainda mais claustrofóbica, com suas câmeras
trêmulas e cores saturadas.
Von Trier abusa do conceito do fantástico, mas a série traz também temas que
viriam a caracterizar mais
tarde a obra do diretor, como esquisitices diversas, humor negro, uma certa crítica
social e culpa cristã, além da
oposição entre a racionalidade (e incapacidade) da
ciência e o sobrenatural.
No mais, a trama e os nomes dos personagens são
quase idênticos à nova versão da série, de Stephen
King. Uma senhora hipocondríaca, Sigrid Drusse, faz
de tudo para conseguir entrar no hospital; mais tarde,
irá ouvir choros da menina-fantasma -a assombração
está presa no hospital e tenta
ir ao "reino das luzes". Entre
as peculiaridades dessa versão original estão o arrogante neurocirurgião-chefe, Stig
Helmer, que passa a maior
parte do tempo defendendo
a superioridade dos suecos
em relação aos dinamarqueses; e o casal de deficientes
mentais que funciona como
um coro grego.
Na época, "O Reino" foi
muito comparado ao igualmente bizarro "Twin
Peaks", de David Lynch.
Não é para menos. Entre outros tipos e situações surreais, Von Trier presenteia o
espectador com cabeças decapitadas dentro de congeladores, transplantes de fígado
canceroso em pessoas saudáveis, um residente que ri
de cadáveres etc. Houve ainda "O Reino 2", em 1997, que
deu prosseguimento aos
acontecimentos da série, em
ritmo ainda mais esquizofrênico.
(BYS)
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