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LIÇÃO DE CASA
Meta é requalificação
Projeto da USP pode dar nova vida a cortiço
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A lição de casa de um grupo de
22 alunos da FAU (Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo) da
USP (Universidade de São Paulo)
pode mudar a vida de 325 pessoas
que se amontoam nos 284 m2 do
cortiço da rua Solon, 934, no Bom
Retiro (centro de São Paulo).
Comandados pela diretora da
faculdade, Maria Ruth Amaral
Sampaio, 60, titular da disciplina
de habitação popular, eles participam do projeto de requalificação
do edifício de oito andares, 74
apartamentos (cerca de 170 cômodos), onde 72 famílias vivem
até dentro do fosso do elevador.
Nos anos 80, a construção,
abandonada na terceira laje por
falência e morte do construtor, foi
ocupada por sem-teto. Erguido
precariamente pelos moradores,
o prédio ganhou mais cinco andares. "Fiquei espantada quando
prestei realmente atenção nele. É
feio", resume a diretora da FAU.
Mas os problemas do cortiço da
rua Solon vão além da aparência.
As instalações elétrica e hidráulica
até hoje não foram concluídas. A
água só tem força para chegar até
o quinto andar. Nos demais, só
sobe até as 23h30. "A gente se programa e deixa os baldes reservados", diz Gisele Vaz da Silva Lima,
25, moradora do sétimo andar.
O que deveria ser o fosso do elevador foi adaptado e hoje abriga,
no primeiro andar, oito pessoas.
A dona-de-casa Cleuza Zerbitte,
55, é uma delas. "Como não havia
mais cômodos vagos, viemos para cá, mas é bem seguro", conta a
líder da Unificação de Lutas e
Cortiço, que diz ter pago, há nove
anos, R$ 2.000 pelo ""cômodo".
A principal preocupação dos
moradores é em relação a incêndios, já que a fiação está exposta
e toda emaranhada. "Fora isso, é
só alegria. Aqui, todas as crianças
estão estudando, e não há roubos
ou tráfico", relata Lima. Eles também temem deixar o prédio durante uma possível reforma.
"Queremos garantia de volta."
O projeto da FAU teve início em
fevereiro deste ano. A etapa inicial
já está concluída: um levantamento socioeconômico dos moradores, que serviu de base para
entrar com um pedido de usucapião (posse do imóvel aos ocupantes após cinco anos de uso).
"Agora vamos dividir racionalmente o espaço do cortiço de
acordo com a composição das famílias", relata André Lopes do
Prado, 23, estudante do segundo
ano da faculdade, descrente
quanto à concretização do projeto, que será apresentado ao secretário municipal de Habitação.
Para Helena Menna Barreto,
coordenadora do programa Morar no Centro, da Secretaria de
Habitação, há boas chances de o
projeto dos alunos entrar no orçamento da Prefeitura e o prédio ser
requalificado. "Se for um estudo
bem embasado, acredito na aprovação."
(ANA PAULA DE OLIVEIRA)
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