São Paulo, domingo, 02 de junho de 2002 |
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+ política Integração dos novos guetos e garantia de cidadania são os grandes desafios do século 21 Separados, mas iguais
Ralf Dahrendorf
Certamente não um muro, não é mesmo? Um amigo israelense, ativista do movimento pacifista "Paz Agora", respondeu à minha pergunta com outra:
"Você percebe que nenhum homem-bomba entrou em Israel vindo da faixa de Gaza?". Por quê? "Porque existe uma cerca." Se uma cerca elétrica fosse construída
ao redor do território da Cisjordânia, ele continuou, dois
problemas seriam solucionados ao mesmo tempo. Os palestinos teriam permissão para entrar em Israel apenas por
um pequeno número de postos de controle, e os colonos
logo considerariam sua posição insustentável e retornariam para Israel.
Na verdade, sempre que grupos diferentes tiveram de compartilhar um espaço ou eles lutaram entre si ou traçaram uma linha para se manter separados. Às vezes essas linhas são muito visíveis. São na verdade as fronteiras, como foram tão drasticamente traçadas entre as partes da antiga Iugoslávia. Geralmente o drama impõe um alto custo humano. "Limpeza étnica" significou na maioria dos casos perseguição e matança. Onde as forças internacionais de paz entraram, logo abandonaram qualquer esperança de fazer muçulmanos e cristãos, croatas e sérvios viverem novamente como vizinhos, mesmo aqueles que no passado haviam sido vizinhos pacíficos. Em outros lugares, mesmo nos países mais civilizados, o mesmo processo talvez não seja tão visível, mas é igualmente predominante. Os turcos de Berlim, os bengaleses de Bradford, os norte-africanos dos subúrbios de Paris não se misturaram às sociedades que os rodeiam. Na verdade, às vezes a segunda geração cultiva sua diferença da cultura dominante de maneira mais agressiva que os imigrantes originais. Por que a igualdade de direitos dos cidadãos não atinge seu objetivo? Em muitos casos, talvez as pessoas não tenham se esforçado o suficiente. Afinal, no que diz respeito aos judeus, Israel fez um trabalho notável de integração da diversidade. Os Estados Unidos talvez não sejam hoje o mesmo cadinho que foram um século atrás, mas mesmo assim são um bom exemplo. Talvez seja a falta de força integradora em outras sociedades o que faz as pessoas sentirem que o único lugar a que realmente pertencem seja dentro de seu próprio povo. A globalização pode ter algo a ver com isso assim como a desintegração que acompanha a modernidade. Para aqueles que não abandonaram a esperança de uma eventual vitória dos valores esclarecidos, mas que não obstante vêem as coisas como elas são no mundo real, uma versão de "separados, mas iguais" pode fornecer pelo menos uma resposta provisória. No que diz respeito à igualdade, garantir direitos plenos de cidadania para todos representa uma grande tarefa. Muito resta a ser feito para alcançá-lo. No que diz respeito à separação, ela não deveria ser promovida explicitamente, a menos que uma cerca pareça ser a única esperança de paz. Ela deve, no entanto, ser permitida, enquanto ao mesmo tempo deve haver espaços comuns disponíveis e seguros para todos. Londres é um exemplo quando se pensa no relativo sucesso diante de uma extraordinária diversidade. Nessa grande metrópole, muitas pessoas vivem principalmente entre seus pares, mas compartilham os prazeres e os problemas dos espaços públicos. Suas vidas são entrelaçadas -e, no entanto, diferentes. Ralf Dahrendorf é sociólogo. Foi reitor da London School of Economics e diretor do St. Anthony's College, em Oxford. Copyright: Project Syndicate e Institute for Human Sciences. Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves. Texto Anterior: + autores: O historiador inglês Roy Porter Próximo Texto: + livros: Entre quatro paredes Índice |
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