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+ cultura
"As cidades serão melhores"
O celebrado arquiteto Santiago Calatrava fala do futuro das metrópoles e diz que gostaria de trabalhar na América Latina
GUIDO CARELLI LYNCH
Para apresentar Santiago Calatrava basta
dizer que, com a cicatriz aberta e o orgulho ferido pelo colapso das emblemáticas Torres
Gêmeas, foi justamente esse
engenheiro, arquiteto e artista
plástico de Valencia (Espanha)
que o consórcio privado Shelbourne Development procurou
para construir a Chicago Spire
-que, com 610 metros, será a
torre mais alta dos EUA, capital mundial do arranha-céu.
Perto de completar 57 anos,
esse filho de plantadores de
frutas cítricas levantou pontes
em três continentes, estações
de trens e aeroportos, edifícios
residenciais, óperas e também
o sonho de qualquer arquiteto:
museus. Também é doutor honoris causa em algumas das
universidades mais prestigiosas do mundo.
Mas qual é a atual fantasia de
um dos expoentes máximos da
arquitetura contemporânea?
"A maioria dos trabalhos que
fiz são obras públicas, de domínio público, o que significa que
são dirigidas a todos. Creio que,
analisando esses 27 anos de
trabalho, é uma grande satisfação para um profissional ver
que suas obras são utilizadas
por muitos milhares de pessoas. Então, nesse sentido,
penso que minha obra continuará fiel a esse aspecto", diz
Calatrava, de seu escritório em
Zurique, na Suíça.
PERGUNTA - Santiago Calatrava é
melhor como arquiteto, engenheiro
ou artista plástico?
SANTIAGO CALATRAVA - (Rindo)
Isso são os outros que devem
dizer. Mas, quando encaro uma
obra, a arquitetura absorve tudo. É uma arte plástica e ao
mesmo tempo usa a escultura e
a engenharia para alimentar-se
delas. Mas o que predomina é a
arquitetura.
PERGUNTA - Como serão as cidades
do futuro?
CALATRAVA - O século 20 trouxe
uma enorme quantidade de
pessoas para as cidades, que
cresceram, sobretudo aqui na
Europa, de dezenas para milhões de habitantes praticamente em duas gerações, em
menos de 30, 50 anos, mas
creio que agora esse ritmo vai
se acalmar. E não haverá possibilidade de ver uma cidade de
2.000 habitantes passar a ter 2
milhões, como vimos.
O século 21 será um tempo de
reconciliação com a cidade, em
que, com a melhora dos transportes urbanos e da infra-estrutura, elas voltarão a renascer como lugares em que será
agradável viver.
PERGUNTA - Que mudanças o sr.
imagina?
CALATRAVA - Creio que as preocupações ligadas ao ambiente
terão um papel de enorme relevância, sobretudo em relação à
energia, e, nesse sentido, penso
que precisamos nos preparar
para inovações importantes.
PERGUNTA - Alguns críticos afirmam que suas pontes são antropomórficas. É verdade?
CALATRAVA - É bom que as coisas tenham um enigma, e por
isso não é bom contar muita
coisa sobre elas.
Mas é verdade que têm um
aspecto antropomórfico, e explico por quê. Como os usuários são homens, é lógico que as
pessoas, além de estarem virtualmente no centro da obra,
sejam o elemento de inspiração
da própria obra.
Como na Antigüidade, usar o
homem como medida na arquitetura e como medida de tudo é
uma doutrina comum e de
grande classicismo...
PERGUNTA - Buenos Aires também
tem uma ponte de Calatrava...
CALATRAVA - Creio que cada lugar exige uma ponte. Não importa o tamanho da obra ou se a
ponte de Buenos Aires é uma
obra modesta, pois adquire um
significado especial pela escala,
o lugar, ao lado da Casa Rosada,
pelo extraordinário Puerto Madero e por essa cidade extraordinária que é Buenos Aires.
PERGUNTA - O sr. sabia que hoje há
conflitos ligados à manutenção da
ponte e que ninguém está cuidando
dela?
CALATRAVA - Não, mas creio que
a manutenção é fundamental,
ainda mais em uma obra móvel.
Na Golden Gate, em San
Francisco (EUA), por exemplo,
há uma equipe que está continuamente mantendo a ponte e
pintando-a. Quando acaba de
um lado, recomeça do outro, e
assim sucessivamente. É impossível fazer coisas sem nenhuma manutenção, nem mesmo em pedra...
PERGUNTA - Para terminar, o sr. foi
novamente convidado para construir na América Latina?
CALATRAVA - Não, mas para
mim é um lugar tão familiar
que eu gostaria que isso acontecesse. Teria de lhe dedicar um
pouco mais de tempo, isso sim.
Mas ficaria encantado de trabalhar lá, é um lugar de que gosto
muito, é muito familiar.
A íntegra desta entrevista saiu no "Clarín".
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves .
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