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+ política
Decadência armada
Autor de estudo sobre as Farc, Pascal Drouhaud diz ser precipitado prever o declínio da guerrilha após libertação de Ingrid
MARIE SIMON
As condições da libertação de Ingrid
Betancourt revelam a existência de
graves erros de funcionamento" no interior da
guerrilha colombiana, explica
Pascal Drouhaud, autor de "Les
Farc - Confessions d'un Guérillero" (As Farc - Confissões de
um Guerrilheiro, ed. Choiseul,
20) e especialista na situação
colombiana. "A Colômbia vive
um momento histórico."
PERGUNTA - Qual foi sua primeira
reação à libertação de Ingrid?
PASCAL DROUHAUD - Antes de
mais nada, é claro, sinto uma
alegria imensa. Ingrid Betancourt passou mais de seis anos
prisioneira. Seis anos de sofrimento e angústia.
PERGUNTA - Ingrid Betancourt se
converteu em uma espécie de ícone.
O que sua perda representa para as
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)?
DROUHAUD - Os guerrilheiros
perderam uma refém emblemática, que lhes proporcionava
visibilidade internacional.
PERGUNTA - O interesse nacional e
a pressão decorrente dele, de certa
maneira, irão diminuir?
DROUHAUD - Creio que não. A
situação colombiana não interessa apenas pelo caso de Ingrid Betancourt. As Farc ainda
mantêm cerca de 800 reféns e
integram a lista internacional
de movimentos terroristas.
Acredito que a comunidade
internacional compreendeu
que, para conseguir uma paz
durável na região, é indispensável solucionar o conflito interno colombiano.
PERGUNTA - Vários dos líderes das
Farc caíram nos últimos meses. É o
anúncio crônico de seu fim?
DROUHAUD - A fase ruim continua, de fato. As condições da libertação de Ingrid Betancourt
traem a existência de graves erros de funcionamento interno
[um agente infiltrado conseguiu agrupar 15 reféns e levá-los para fora, fazendo os guerrilheiros acreditar que se tratava
de uma simples transferência
de prisioneiros de um local para outro]. As tropas e o comando têm dificuldade de se comunicarem, e essa dificuldade tem
conseqüências operacionais.
E o movimento está infiltrado em seu mais alto nível, como
mostraram as operações que
custaram a vida a Ivan Rios e
Raúl Reyes [líderes das Farc
mortos neste ano].
A guerrilha corre grande risco de se desarticular sob a pressão acentuada e muito precisa
do Exército colombiano. Vemos aqui os resultados da política de segurança e de reforço
do Exército implantada pelo
presidente Álvaro Uribe a partir de 2002.
Portanto, o momento é difícil
para as Farc, mas é preciso prudência, pois o grupo ainda conta com vários milhares de homens armados e habituados a
viver na clandestinidade.
PERGUNTA - Uribe conquista uma
vantagem após outra. Ele vai seguir
adiante com essa política?
DROUHAUD - Ele pode levar sua
vantagem adiante, em vista do
sucesso de sua política. Com
uma vantagem tão grande,
também pode se permitir o luxo de não responder à reivindicação das Farc de obterem o estatuto de beligerantes, de não
figurarem na lista dos movimentos terroristas. Acho que o
governo colombiano está muito longe de reconhecer a dimensão política das Farc.
PERGUNTA - Uribe pediu às Farc
que libertem os outros reféns e aceitem fazer a paz. Como elas podem
reagir, enfraquecidas que estão no
momento atual?
DROUHAUD - Caberá a Alfonso
Cano, o novo e muito pragmático chefe do grupo, responder a
esse golpe enorme sofrido. Em
todo caso, a libertação desses 15
reféns abre o caminho para um
processo que pode levar à região uma paz durável. Estamos
vivendo um momento histórico e inédito para a Colômbia.
Este texto foi publicado no "L'Express".
Tradução de Clara Allain .
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