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Leia trecho de "As Estrelas Descem à Terra", ataque de Theodor Adorno às colunas astrológicas
THEODOR ADORNO
A única diferença substancial
que os astrólogos mais sofisticados podem apontar entre eles mesmos e a tribo das
bolas de cristal é sua aversão
a profecias desqualificadas -uma atitude presumivelmente devida à cautela.
Os astrólogos reiteram continuamente que não são deterministas e se encaixam no padrão da cultura de massa moderna que protesta tanto mais fanaticamente em nome dos princípios do individualismo e do livre-arbítrio quanto
mais a verdadeira liberdade de ação desaparece.
A astrologia tenta se afastar de um fatalismo não-refinado e impopular, estabelecendo forças externas que operam
na decisão do indivíduo, incluindo seu
próprio caráter, deixando a escolha fundamental em suas mãos.
Isso tem significativas implicações
sociopsicológicas. A astrologia encoraja
as pessoas a tomarem decisões constantemente, independentemente do quão
inconseqüentes elas possam ser. Ela se
direciona à ação prática, a despeito de
todo o elevado falatório a respeito de segredos cósmicos e meditação.
Assim, o próprio gesto da astrologia,
sua pressuposição básica de que todos
têm de tomar decisões a todo momento,
alinha-se com aquilo que, posteriormente, aparecerá associado ao conteúdo específico do aconselhamento astrológico: sua inclinação à extroversão.
Clima de semi-erudição
Além do mais, a idéia de que a liberdade do indivíduo resulta em agir da melhor maneira possível, com base no que
uma determinada constelação permite,
implica a idéia de ajustamento, com a
qual a astrologia está alinhada. [...].
De acordo com esse conceito, a liberdade consiste em que o indivíduo tome
voluntariamente como seu aquilo que,
de qualquer maneira, é inevitável. Desse
modo, a casca vazia da liberdade é zelosamente preservada. Se o indivíduo age
de acordo com dada conjuntura, tudo
dará certo; se não, tudo dará errado.
Algumas vezes, afirma-se com toda a
franqueza que o indivíduo deveria ajustar-se a determinadas constelações.
Talvez se pudesse dizer que, na astrologia, há uma metafísica implícita de ajustamento por trás do conselho concreto
de ajustamento na vida cotidiana. [...]
Pode-se reiterar que o clima cultural
de semi-erudição oferece um solo fértil
para a astrologia porque, aqui, a ingenuidade primária, a aceitação irrefletida
do existente, foi perdida, enquanto, ao
mesmo tempo, nem o poder do pensamento nem o conhecimento positivo foram suficientemente desenvolvidos.
O semi-erudito tem uma vontade vaga de entender e também é levado pelo
desejo narcísico de se mostrar superior
às pessoas simples, mas não está em
uma posição tal que lhe permita empreender operações intelectuais complicadas e distanciadas.
Minoria que está "por dentro"
Para ele, a astrologia, assim como outras crenças irracionais, como o racismo, oferece um atalho, reduzindo o que
é complexo a uma fórmula prática e oferecendo, simultaneamente, uma agradável gratificação: o indivíduo que se
sente excluído dos privilégios educacionais pode, ainda assim, pertencer a uma
minoria que está "por dentro".
Este texto paz parte do livro "As Estrelas Descem à Terra - A
Coluna de Astrologia do "Los Angeles Times'" (196 págs., R$
32), que será lançado pela editora Unesp na próxima quinta.
Tradução de PEDRO ROCHA DE OLIVEIRA.
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