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Livros
Aqui jaz uma ideologia
"Frutos Estranhos", do cientista social Kenan Malik, ataca os efeitos perversos do multicultura-lismo e prevê seu fim
STEPHEN CAVE
Está sendo preparado o
funeral do multiculturalismo. Alguns
acham que ele caiu
juntamente com as
torres gêmeas. Outros pensam
que ele sangrou até morrer
com Theo van Gogh, o crítico
assassinado por um muçulmano holandês em Amsterdã.
No Reino Unido, o multiculturalismo talvez tenha voado
pelos ares no atentado ao metrô em 7 de julho de 2005, pelas
mãos de quatro homens -todos criados no Reino Unido.
Três anos depois de tudo isso, Kenan Malik, um dos mais
inteligentes de nossos críticos
sociais, escreveu o obituário.
Em seu novo livro "Strange
Fruit - Why Both Sides Are
Wrong in the Race Debate"
(Frutos Estranhos - Por Que os
Dois Lados Estão Errados no
Debate Racial, Oneworld Publications, 288 págs., 18,99,
R$ 61), Malik afirma, para começar, que o conceito de raça
não é científico e, em seguida,
que o multiculturalismo é culpado de reforçá-lo, acarretando conseqüências graves para
nossa sociedade.
Raça inferior
Malik abre seu livro com a
alegação infame de James Watson, co-descobridor do DNA,
de que os africanos têm inteligência inferior à "nossa".
Não apenas nossos genomas
são virtualmente idênticos como as diferenças que ocorrem
existem em grande quantidade
no interior das populações.
Em outras palavras, se a humanidade inteira fosse exterminada, com a exceção de uma
única tribo pequena, virtualmente todas as variações genéticas continuariam a existir.
Todos nós sabemos diferenciar um inuíte de um etíope,
mas, deixando de lado suas características superficiais, as categorias amplas e inconsistentes de raça constituem um guia
falho às diferenças genéticas.
Então por que, já que o conceito está tão desacreditado,
continuamos a pensar em termos raciais?
Devido ao culto ao multiculturalismo, afirma Malik. Enquanto no passado os pensadores progressistas defendiam
que se desse tratamento igual a
todos, apesar de suas diferenças, hoje eles advogam tratar as
pessoas diferentemente em razão de suas diferenças.
Esse respeito equivocado pela diversidade nos leva a atribuir uma marca, como uma cor
ou um credo, a comunidades
que são complexas.
A conseqüência disso não é
apenas a divisão da sociedade
segundo critérios étnicos, como também o fortalecimento
das forças conservadoras internas às comunidades.
Rumores exagerados
Desse modo convertemos os
mulás em porta-vozes de pessoas que, anteriormente, talvez
tenham visto seu legado islâmico como não mais que uma parte de sua identidade.
Os rumores sobre a morte do
multiculturalismo são exagerados, sem dúvida.
Mesmo assim, nos círculos
intelectuais é considerado elegantemente arriscado criticar o
movimento, e algumas dessas
críticas se aproximam perigosamente da xenofobia.
Não é o caso de Malik. Seu
tom é comedido, e seus argumentos são bem-fundamentados. Lúcido e importante, seu
livro é alicerçado na crença
fundamental na dignidade humana universal.
Este texto saiu no "Financial Times".
Tradução de Clara Allain.
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