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JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA
O autor
Igualmente Machado e
Guimarães Rosa, como Oswald
Andrade, Clarice Lispector e
Euclydes da Cunha. Sou pela
orgia, e nessa orgia eles estão
juntos.
Desses artistas não podemos
dizer que são melhores ou
piores: eles têm a percepção do
invisível -que o rebanho precisa
classificar. Todos eles é preciso
ler em voz alta -Guimarães
Rosa, nem se fale. É uma língua
falada e viva, transparente ao
invisível.
A obra
Minha obra predileta de
Machado é [a crônica, incluída
em "Páginas Recolhidas"]
"Canção de Piratas", sobre as
primeiras notícias de Canudos:
"O Conselheiro. Não lhe ponhas
nome algum, que é sair da poesia
e do mistério". "Tudo pirata. O
romantismo é a pirataria, é o
banditismo, é a aventura do
salteador que estripa um
homem e morre por uma dama."
Vou fazer uma música sobre isso
-tudo pirataria!.
Ele diz: "Ó vertigem das
vertigens!". Isso influenciou
Euclydes, que escreveu a partir
da vertigem.
E tira o peso da interpretação
marxista de Roberto Schwarz,
que reduz o texto. Realista,
romântico -a classificação
prejudica Machado. Machado de
Assis, negro, epilético, escreve
com sobriedade, mas tem um
vulcão dentro de si -é a
vertigem que interessa.
Vejo uma coisa louca nesse
texto: Machado se coloca como
artista, como o cara que tem
concepção da vida, mais que uma
consciência. O artista está
plugado na vida, a mesma vida
de que Guimarães Rosa fala com
sua linguagem. Em "Canção de
Piratas", você sente vontade de
cantar -é um transe.
JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA é diretor teatral, em cartaz com "Taniko - O Rito do Mar", em
São Paulo.
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