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CLEUSA RIOS PINHEIROS PASSOS
O autor
É complicado escolher entre um
e outro, já que ambos são nomes
literários de grande porte, e a
leitura de suas obras ultrapassa
tanto o momento de sua criação
quanto nossas fronteiras.
Embora estude mais Rosa, eu
diria que são autores diferentes,
escreveram em contextos
sociais distintos e assim devem
ser tratados.
Cada um tem seu papel nas
história e tradição literária
brasileiras, constituindo marcos
fundamentais de mudança.
Em termos de produção, a de
Machado, em seu conjunto, é
mais diversificada -poesia,
crônicas, contos, romances,
peças teatrais, ensaios críticos
etc.-, a de Rosa se concentrou
em contos, novelas, romance,
poesia e as renomadas
cadernetas, farto material para
a crítica genética.
Contudo, se a maior parte dos
textos de ambos é ímpar, nem
todos têm, em relação a critérios
de valor, a excelência de "Dom
Casmurro" ou "Grande Sertão",
por exemplo. Mas não precisam.
As duas obras já bastariam para
que os considerássemos
ficcionistas primorosos no Brasil
e fora dele.
A obra
Sigo aqui minha posição
anterior. Considero as obras
citadas as melhores de cada um.
"Dom Casmurro" me parece o
romance machadiano mais feliz
do ponto de vista literário, e
"Grande Sertão", uma realização
estética impecável, marcada por
traços míticos e pela
"dramatização" da linguagem.
Curiosamente, os dois textos
dialogam com a tradição,
elaborando ambíguos
narradores, em primeira pessoa,
que reconstroem o passado em
busca de sentidos para a
existência, negando-a ou
tentando reencontrá-la por meio
do verbo.
De certa forma, aproximam-se e
se distanciam na relação com o
"tempo": Machado afasta-se de
sua época e incorpora leituras de
autores como Goethe ou
Shakespeare, ressignificando-as, Rosa retoma temas e
vocábulos arcaicos e os
reinventa.
Com universo, trama, tom e
linguagem diferentes, Machado
cria, valendo-se da construção
fragmentária, da ironia, das
alusões e "conversas" com o
leitor; já Rosa corporifica sua
criação no cerne da língua,
explorando suas virtualidades,
subvertendo-a e desencadeando
novos sentidos.
CLEUSA RIOS PINHEIROS PASSOS é professora de teoria literária na USP e autora, entre outros livros, de "Guimarães Rosa - Do Feminino e
Suas Estórias" (Hucitec/ Fapesp).
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