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LEOPOLDO BERNUCCI
O autor
A comparação entre essas duas
grandes figuras literárias do
Brasil seria semelhante àquela
entre Nicolas Poussin e Picasso
no campo da arte ou, ainda, entre
Bach e Mozart no da música.
Esse tipo de comparação gera
um inevitável dilema que só será
resolvido se adotarmos critérios
subjetivos.
Prefiro pensar estes dois
admiráveis escritores como
artesãos da língua e intérpretes
da humanidade. Ambos, em
diferentes épocas, escreveram
suas belas obras procurando
representar e entender o
espírito humano, a nossa relação
com a vida e os seus mistérios,
sempre de maneira ambígüa e
ambivalente, que é o melhor
modo de traduzir também a
nossa existência.
A obra
Para as horas da noite e do
silêncio, "Dom Casmurro",
porque nos leva, pelas trilhas da
fantasia, ao universo de
Shakespeare, da ópera, das
paixões, da reflexão filosófica.
Para as horas do dia, "Grande
Sertão: Veredas", que nos
engolfa no mundo da oralidade,
obrigando-nos a pensar sua
singular linguagem como
estímulos intelectuais, para em
seguida envolver-nos, uma vez
mais, no fascinante mundo
dessa ficção encantadora.
São duas obras máximas que não
podem e não devem competir
porque se complementam e
chegam até nós como uma
dádiva dos deuses. Então, aqui,
há um empate.
LEOPOLDO BERNUCCI é professor de estudos
latino-americanos na Universidade da Califórnia, em Davis, autor de "A Imitação dos Sentidos" (Edusp), entre outros livros.
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