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MARCOS SISCAR
O autor
A hierarquia poderia ter
interesse se ajudasse a discutir
seriamente as visões de cultura
e de literatura que dois grandes
escritores brasileiros suscitam
para um leitor contemporâneo,
com o risco sempre iminente de
reeditar a velha "Guerra dos Cem
Anos" da própria crítica, mais ou
menos preocupada em acertar o
"alvo" (como dizia Sartre).
No fundo, desconfio que a
pergunta não ofenderia
nenhuma das partes envolvidas,
uma vez que mantém aquilo que
há de compartilhado entre
todos, que é o balanço
convencional do panteão
literário brasileiro dos séculos
19 e 20.
Eu preferiria dizer que Machado
e Guimarães são casos
especialmente marcantes
daquilo que a literatura oferece
para resistir à já antiga demanda
de homogeneização cultural de
nossas sociedades democráticas
-que, apesar disso, são os
espaços onde essa literatura
continua sendo possível.
A obra
Para não perder o aspecto lúdico
da enquete, evoco a experiência
pessoal: uma das obras cuja
leitura mais me mobilizou foi
"Grande Sertão: Veredas".
No momento da descoberta, eu
já tinha lido outros textos de
Guimarães muito relevantes
para o poeta iniciante que eu era,
e uma das surpresas do enredo
do livro já estava
definitivamente proibida pela
celebridade do romance. Mas a
experiência me marcou
profundamente pelo modo como
o texto suscita estranhezas
inusitadas dentro de uma
situação de língua e de cultura
muito familiar, pelo modo como
alterna a acumulação e o
deslocamento do conhecimento
prático.
Certamente, algo desse impacto
provém da amplitude e do
acabamento admiráveis do
projeto, num século que foi tão
insatisfeito com seus épicos
quanto sedento por eles.
MARCOS SISCAR leciona literatura na Universidade Estadual Paulista (São José do Rio Preto)
e é autor de "O Roubo do Silêncio" (7 Letras).
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