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LUÍS AUGUSTO FISCHER
O autor
O maior entre os dois é Machado
de Assis, considerando duas
variáveis associadamente.
Uma: obra de primeiro plano em
matéria de invenção, num
manejo extraordinário do
repertório do gênero (no caso
dele, dois gêneros, romance e
conto, senão três, o ensaio de
tipo inglês, ou a crônica, numa
denominação brasileira, menos
forte), o que o torna um artista-crítico, com hífen, isto é, um
artista moderno.
E duas: obra com capacidade de
representar e pensar a
experiência de seu tempo (o
século 19) e seu lugar (o Brasil, a
periferia americana do
Ocidente) com grande
profundidade e extensão.
Guimarães Rosa, com sua
maravilhosa criação, também
inventiva e representativa de
seu lugar, representa pouco de
seu tempo -em sua obra, o que
está em causa é o que restou
depois do furacão da
modernização industrial.
A obra
Isoladamente, as "Memórias
Póstumas de Brás Cubas",
porque são um marco da virada
em direção à maturidade do
autor, abrindo caminho para
outras grandes realizações e
superando por dentro os limites
anteriores.
Porque mantêm sua vivacidade,
sua capacidade de provocação ao
leitor para muito além de seu
tempo, permanecendo como
texto forte.
E porque são fruto de uma
negociação complexa entre a
experiência imediata, da vida do
autor e da vida brasileira em
sentido amplo, e a tradição do
gênero romance, num
procedimento que emancipa o
debate local e liberta o autor (e o
leitor) das constrições
nacionalistas sem perder de
vista a tarefa ontológica do
romance enquanto tal -isto é,
enquanto forma de relato da
experiência da vida moderna ali
onde ela acontece, neste caso o
Rio de Janeiro.
LUÍS AUGUSTO FISCHER é professor de literatura na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul e autor de "Literatura Brasileira - Modos de
Usar" (L&PM).
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