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Acervo da Unicamp esconde obra inédita
Maurício Santana Dias
da Redação
Praça Henfil, 50, Cidade Universitária "Zeferino
Vaz", Unicamp. Neste endereço, nos fundos do
prédio do Arquivo Central (0/xx/19/3788-6439),
estão conservadas centenas de documentos
-cadernos de anotações, manuscritos, fotografias,
correspondência, artigos de jornal- que pertenceram
ao acervo pessoal de Sérgio Buarque de Holanda.
Todo esse material, doado pela família à Universidade
Estadual de Campinas na década de 1980, está hoje cuidadosamente preservado em salas climatizadas (19ºC).
E, o que é melhor, acessível a pesquisadores. Entre as
preciosidades do "Arquivo SBH" há, por exemplo, uma
dissertação de mestrado intitulada "Elementos Formadores da Sociedade Portuguesa na Época dos Descobrimentos", defendida em 30/7/1958 na Escola Livre de Sociologia e Política (SP), que permanece inédita (leia na
contracapa um trecho fac-similar). Na banca examinadora, os professores Herbert Baldus, Fernando Altenfelder Silva, Lolita Almeida e Octavio da Costa.
A cópia, em mimeógrafo a álcool, tem 160 folhas, muitas delas com emendas do autor, feitas a caneta. Poucos
pesquisadores sabem da existência desse texto. Um deles é o professor de história Edgar de Decca, presidente
da comissão da Unicamp responsável pelos eventos comemorativos do centenário. De Decca descobriu a dissertação há cerca de quatro anos, quando pesquisava no
arquivo. "Trata-se de uma interessantíssima história
social e cultural de Portugal nos séculos 15 e 16, baseada
em fontes primárias e secundárias", diz ele.
A poucos metros dali, no terceiro andar da Biblioteca
Central (0/xx/19/3788-6490), está a coleção de livros do
historiador, adquirida pela universidade em 1983. Com
8.513 volumes, 227 títulos de periódicos e 600 obras raras dos séculos 16 ao 20, o acervo dá uma boa idéia da
amplitude de interesses de Sérgio Buarque: literatura,
história, sociologia, filosofia, antropologia, crítica literária. Em muitos livros se pode ver o leitor meticuloso que
ele era: além de sublinhar as passagens que mais lhe interessavam, Sérgio Buarque costumava fazer um índice
de assuntos e nomes na última página do exemplar.
Ao fundo da sala onde estão as estantes de livros há
uma curiosidade: a reconstituição do escritório do historiador nos anos 30, com móveis originais. Tudo simples: escrivaninha, cadeira, estante, escada de madeira de três degraus e uma poltrona, também de madeira,
cujo braço direito está com o verniz descascado, uma
mancha retangular ali onde ele costumava apoiar seus
cadernos de estudo. Sobre o tampo da mesa, a máquina
datilográfica "Royal", que lhe serviu para escrever "Raízes do Brasil" e depois pertenceu a Antonio Candido.
Boa parte da biblioteca e do acervo pessoal já pode ser
visitada no site www.unicamp.br/siarq/sbh, inaugurado em maio passado. Entre as informações contidas na
homepage -catálogos de foto, documentos e livros-,
há uma breve biografia (com texto e imagens) escrita
por sua mulher, Maria Amélia Buarque de Holanda.
Se a Unicamp mantém o acervo de Sérgio Buarque, a
casa da família na rua Buri, 35, Pacaembu, em SP, está
desocupada. O projeto de transformá-la em centro cultural ainda espera por uma instituição que o patrocine.
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