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Crack, cachaça e maconha mascaram esforço e dor
DOS ENVIADOS AO INTERIOR DE SP
O
primeiro fumava
maconha na colheita da cana porque
"ficava com o corpo mais leve. Dava vontade de trabalhar". O segundo escondia
cachaça em sua mochila.
"Quanto mais eu bebia,
mais tinha energia. Eu me
sentia forte."
O terceiro "ia embora"
com maconha ou crack,
subproduto barato da cocaína ainda mais destrutivo
e capaz de criar dependência. "Quando usava, ninguém me segurava. Cortei
21 toneladas em um dia."
Na Casa do Caminho, um
centro de recuperação de
dependentes químicos em
Barrinha, na maioria trabalhadores do cultivo da cana,
eles tentam voltar à tona.
O primeiro trocou a maconha pelo crack. "Na roça,
vinha a sensação de ser perseguido, eu ficava com medo, via revólver, dava vontade de atirar em mim mesmo. Não trabalhava. Comecei a perder o serviço."
O segundo foi do fermentado de cana-de-açúcar para o crack. Se fumava a droga, misturada com fumo,
faltava ao trabalho. "No
crack, o fim é o cemitério,
uma cadeira de rodas ou a
cadeia." O terceiro "ficava
louco e continuava trabalhando. Viajava no serviço.
Gritava e zoava a cabeça dos
meninos. Cantava reggae".
Seu plano para quando sair:
cortar cana.
Não se conhecem estatísticas de consumo de drogas
ilícitas nos canaviais ou o
índice específico de internação de cortadores. O fato
novo é a disseminação no
interior de São Paulo de clínicas de recuperação de trabalhadores da cana. Contam-se ao menos dez.
Os depoimentos dos lavradores associam o consumo de drogas à impressão
inicial de superação dos limites físicos. Na largada,
elas parecem ajudar. Depois, debilitam.
A Casa do Caminho abriga 40 internos. Seu presidente, Arnaldo Garcia, afirma que as fontes de financiamento são diversas. As
usinas contribuem com
açúcar e lenha.
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