São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003 |
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+ trecho HEMON Pai, a palavra é o bem que os deuses deram ao homem, Um dom que dentre todos é o mais grandioso. Quanto a isso que falas, se é verdade ou não, Pra afirmar, não tenho nem quero ter poder. Mas o que um outro diz pode ter seu valor. Neste posto em que estás não te cabe vigiar Tudo o que é dito, feito, tudo o que é culpável. Pois teu olhar terrível ao homem do povo Faz com que ele cale tudo o que não te agrade. Mas eu, eu posso ouvir às cegas os rumores, O choro que a cidade solta por esta moça. Essa inocente nunca mereceu o opróbrio De morrer na ignomínia por atos de glória. Logo ela que impediu que o cadáver do irmão, Caído na matança e insepulto, virasse Carniça para cães e pássaros de rapina. Não merece esta jovem as honras do ouro? Eis o rumor sombrio que se ouve em segredo. Mas para mim, pai, nada se iguala ao tesouro De tua felicidade. Que tesouro é mais Valioso, para um filho, que a glória do pai, E mais caro, para um pai, que a glória do filho? Não vás morar sozinho com teu pensamento, Achar que só é justo aquilo que tu dizes. Quem pensa que é sozinho o dono da razão, Que não possui rival na palavra e na idéia, Um dia alguém o abre e só encontra o vazio. Não há vergonha alguma, mesmo para um sábio, Em sempre aprender mais e não forçar o arco. Vê como no cairel da torrente impetuosa A árvore que cede salva a sua ramagem, Enquanto a que resiste é logo desraigada. E quem põe muita força em firmar o timão Sem folgar a pressão, vê a nave emborcar, E prossegue a viagem com a quilha para o ar! Recua em tua ira e te permite mudar. Se há em mim, apesar de minha juventude, Algum juízo, digo que nada supera O homem que nasce sábio em todas as coisas. Mas, como raramente as coisas tendem a isso, É bom também ouvir a discrição dos outros. CORIFEU Rei, se o que ele diz vale, é bom que aprendas com Ele, e tu, com teu pai. Ambos falaram bem. CREONTE Parece que, com todos os meus anos, tenho Algo a aprender com um menino dessa idade... HEMON Nada que fosse injusto... Embora eu seja jovem, Não é a idade que conta, mas sim minha ação. CREONTE E que ação é essa que cultua a desordem? HEMON Jamais pediria que um mal fosse poupado. CREONTE Mas não é esse mal que empesta aquela moça? HEMON Não é isso que o povo de Tebas proclama. CREONTE É Tebas, então, que vai ditar minhas ordens? HEMON Olha só, tu respondes como uma criança! CREONTE Devo governar para outro, não pra mim? HEMON Que cidade é essa que pertence a um só homem? CREONTE Mas não dizem que o chefe é o dono da cidade? HEMON Darias um bom rei no deserto vazio. Tradução de Lawrence F . Pereira. Texto Anterior: + teatro: Um drama cristão de martírio Próximo Texto: Ponto de fuga: Não há mais para onde ir Índice |
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