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Ex-ditador é hoje um 'personagem vencido'

Para autor da biografia do ex-mandatário, porém, o movimento 'fujimorismo' ainda vive

DE BUENOS AIRES

Para Luis Jochamowitz, Fujimori é uma carta fora do baralho na política peruana. O fujimorismo, porém, estaria mais vivo do que nunca e agregando cada vez mais apoio entre setores de direita do país.

Autor da biografia "Ciudadano Fujimori", Jochamowitz concedeu entrevista à Folha, por telefone, de Lima.

Folha - Por que houve uma identificação do eleitorado peruano com Fujimori?
Luis Jochamowitz - Nunca entendi por completo Fujimori como fenômeno eleitoral.
Há um abismo cultural entre ele e seus eleitores. Mas, ao mesmo tempo em que está rodeado desses estereótipos orientais, ele se identifica com as classes mais populares, porque é filho de imigrantes e fala mal espanhol, como boa parte da população.

Como o sr. definiria Fujimori ideologicamente, no momento em que se apresentou como candidato e depois?
Quando apareceu, fazia-se passar por esquerda nacionalista. Depois isso se diluiu e ele foi para a direita. O que permaneceu foi sua vontade de parecer um reformista, a isso dedicou muita energia.
Mas não há um corpo ideológico por trás do fujimorismo. Ele possuía um discurso contra a subversão, a favor da livre empresa e do livre mercado, e fez alianças fortes com os círculos de poder ligados à extrema direita. É um amálgama muito confuso.

De que modo o Sendero Luminoso é um recurso usado por Fujimori para angariar apoio?
Todos sabem que há focos do grupo em vários lugares do interior. E o fujimorismo, mesmo sem ter Fujimori em cena, é o principal interessado em manter esse temor vivo. Trata-se de um tema que sempre volta, e seus apoiadores insistem no discurso: "No tempo de Fujimori, o Sendero estava sob controle".

Por que razão o assunto do indulto ganhou proporções tão grandes?
Há uma imensa pressão por parte dos políticos fujimoristas e da maior parte da imprensa, que é de direita, que joga com esse indulto porque é uma situação incômoda para o presidente Ollanta Humala.
Se ele não aceita, pode ser considerado intransigente, incapaz de ceder. Se cede, o custo político pode ser muito alto. A oposição joga com isso porque é um assunto delicado, que deixa o presidente em situação difícil.

Como o sr. compararia Fujimori a outros líderes latino-americanos de hoje?
Acho difícil traçar paralelos entre ele e qualquer outro político. Não se alinha com Hugo Chávez, com Cristina Kirchner, muito menos com Dilma Roussef ou Juan Manuel Santos. Eu não diria que é um psicopata, mas trata-se de uma pessoa com muita inconsistência psicológica.
Ele tinha estratégias muito particulares, por exemplo, não aparecia muito, falava pouco, e quando o fazia era sempre pela televisão.
Diferentemente de todos esses, ele não tinha uma fixação pela mídia. Preferia aparecer pouco, ser eficaz e não dar espaço para erros.

O sr. o vê como um perigo para o Peru?
Ele pessoalmente, não. Fujimori é um personagem vencido, tirado do campo de jogo. Ele está envelhecido e desinteressado. Esvaziou-se completamente.
Já o fujimorismo, não. Esse está bem vivo, com grande presença na sociedade e no Congresso. É nada menos que assustador que 20 anos depois do golpe de Estado essa força, responsável por tantos abusos, continue sendo tão relevante. (SC)


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