São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002

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Cidade não sabe o que fazer com mendigos

DE NOVA YORK

Esqueça os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. O problema principal de Nova York hoje, pelo menos o que domina as conversas nas festas, os grupinhos nas ruas e as manchetes dos jornais, são os mendigos da cidade, os sem-teto ou, como quer o politicamente correto, os "prejudicados residencialmente".
Com a diminuição da renda da fatia mais pobre da população nos últimos anos, as cidades viram explodir a parcela de sua população que vive nas ruas. Em Nova York, outubro viu um fluxo diário de 37,1 mil pessoas aos abrigos municipais, número menor só do que os da recessão de 1991.
Essa legião está nas ruas e faz barulho. Primeiro, porque Nova York não sabe onde colocá-los, já que os 125 abrigos oficiais estão superlotados. A mando do prefeito Michael Bloomberg, a agência que cuida do setor tentou enfiar o excedente numa ex-prisão do Bronx. A Justiça proibiu.
Segundo, fala-se inclusive em arrendar ex-navios de cruzeiros turísticos, ancorá-los em torno da ilha de Manhattan e despachar para lá o exército de despossuídos. A hipótese vem sendo criticada pelas entidades de defesa dos direitos humanos, que querem a construção de novos abrigos.
O problema é que a cidade passa por uma crise financeira com precedentes apenas nos longínquos anos 70. Nova York fecha este ano fiscal com um déficit de US$ 1,1 bilhão em suas contas, que pula para US$ 6,4 bilhões no próximo. A dívida -de US$ 40 bilhões- é maior do que a de todos os Estados e custa US$ 2,3 bilhões por ano só em serviço.
Para tapar o buraco, Bloomberg pediu à Câmara dos Vereadores um aumento de 25% no equivalente local ao IPTU, que lhe daria US$ 1,1 bilhão. Conseguiu 18%. Quer ainda reviver um polêmico imposto suspenso há três anos, que cobra dos que trabalham mas não moram na cidade, os chamados "commuters".
Enquanto isso, segundo a ONG Coalizão pelos Sem-Teto, há mais famílias pedindo abrigo em Nova York (8.925 em outubro último, contra 7.916 em junho), e elas têm ficado mais tempo: 11 meses, contra a média de cinco meses nos anos 90.
A questão é tão polêmica que, domingo passado, centenas de manifestantes liderados por organizações de defesa dos direitos humanos tomaram a Union Square, no sul de Manhattan, que ficou conhecida por abrigar as primeiras homenagens aos mortos de 11 de setembro, para uma noite de protesto.
Então, para colocar água na fervura e "limpar" um pouco o visual da cidade para o Natal, Bloomberg dobrou o efetivo da Unidade de Alcance aos Sem-Teto, divisão especial da polícia, para 80 soldados. Como resultado, os mendigos presos saltaram para 250 no último mês.
De novo, as ONGs protestaram contra o que chamam de arbitrariedade. "Se você não tem nada, o pior lugar do mundo para estar agora é nas ruas de Nova York", disse Mary Brosnahan Sullivan, da Coalizão. (SD)


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