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Cidade não sabe o que fazer com mendigos
DE NOVA YORK
Esqueça os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. O
problema principal de Nova York
hoje, pelo menos o que domina as
conversas nas festas, os grupinhos
nas ruas e as manchetes dos jornais, são os mendigos da cidade,
os sem-teto ou, como quer o politicamente correto, os "prejudicados residencialmente".
Com a diminuição da renda da
fatia mais pobre da população nos
últimos anos, as cidades viram explodir a parcela de sua população
que vive nas ruas. Em Nova York,
outubro viu um fluxo diário de
37,1 mil pessoas aos abrigos municipais, número menor só do
que os da recessão de 1991.
Essa legião está nas ruas e faz
barulho. Primeiro, porque Nova
York não sabe onde colocá-los, já
que os 125 abrigos oficiais estão
superlotados. A mando do prefeito Michael Bloomberg, a agência
que cuida do setor tentou enfiar o
excedente numa ex-prisão do
Bronx. A Justiça proibiu.
Segundo, fala-se inclusive em
arrendar ex-navios de cruzeiros
turísticos, ancorá-los em torno da
ilha de Manhattan e despachar
para lá o exército de despossuídos. A hipótese vem sendo criticada pelas entidades de defesa dos
direitos humanos, que querem a
construção de novos abrigos.
O problema é que a cidade passa
por uma crise financeira com precedentes apenas nos longínquos
anos 70. Nova York fecha este ano
fiscal com um déficit de US$ 1,1
bilhão em suas contas, que pula
para US$ 6,4 bilhões no próximo.
A dívida -de US$ 40 bilhões- é
maior do que a de todos os Estados e custa US$ 2,3 bilhões por
ano só em serviço.
Para tapar o buraco, Bloomberg
pediu à Câmara dos Vereadores
um aumento de 25% no equivalente local ao IPTU, que lhe daria
US$ 1,1 bilhão. Conseguiu 18%.
Quer ainda reviver um polêmico
imposto suspenso há três anos,
que cobra dos que trabalham mas
não moram na cidade, os chamados "commuters".
Enquanto isso, segundo a ONG
Coalizão pelos Sem-Teto, há mais
famílias pedindo abrigo em Nova
York (8.925 em outubro último,
contra 7.916 em junho), e elas têm
ficado mais tempo: 11 meses, contra a média de cinco meses nos
anos 90.
A questão é tão polêmica que,
domingo passado, centenas de
manifestantes liderados por organizações de defesa dos direitos
humanos tomaram a Union
Square, no sul de Manhattan, que
ficou conhecida por abrigar as
primeiras homenagens aos mortos de 11 de setembro, para uma
noite de protesto.
Então, para colocar água na fervura e "limpar" um pouco o visual da cidade para o Natal,
Bloomberg dobrou o efetivo da
Unidade de Alcance aos Sem-Teto, divisão especial da polícia, para 80 soldados. Como resultado,
os mendigos presos saltaram para
250 no último mês.
De novo, as ONGs protestaram
contra o que chamam de arbitrariedade. "Se você não tem nada, o
pior lugar do mundo para estar
agora é nas ruas de Nova York",
disse Mary Brosnahan Sullivan,
da Coalizão.
(SD)
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