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São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2003

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EUA

Número de mulheres que desiste de ter filhos para se dedicar à profissão cresce no país; apesar disso, 70% das executivas são mães

Mais americanas desistem da maternidade

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

O número de mulheres que desistem da maternidade para se dedicar à carreira profissional ou simplesmente para ter mais tempo livre está em expansão no Estados Unidos.
Em 2002, cerca de 18% da população feminina entre 40 anos e 44 anos não tinha filhos. Em 1976, a taxa era de 10%. Em outras faixas etárias, o fenômeno se repete. Mais de 45% das mulheres de 25 anos a 29 anos não são mães, contra 30,8% em 1976. Os dados são de pesquisa realizada pelo Escritório do Censo dos EUA.
"Eu aprecio a minha liberdade e a minha independência. Ser mãe exigiria de mim muita dedicação, muito tempo e dinheiro. Não me arrependo de ter feito uma laqueadura de trompas", conta a agente de viagens Jeanine James, 34, de Seattle.
Para James, que é divorciada, a possibilidade ter mais tempo livre para lazer foi o que pesou na hora de decidir não ter filhos. "A minha profissão não me impediria de ter filhos. Foi uma decisão pessoal. Não quero a responsabilidade de ter de cuidar de alguém. Não tenho nem bicho de estimação. Se eu não quero trocar fraldas de bebês, não vou querer me ocupar de limpar outras espécies", brincou.

Oportunidades
Segundo David Popenoe, co-diretor do National Marrige Project (projeto nacional de casamentos), a opção pela carreira profissional exerce uma grande influência entre as mulheres que decidem não ter filhos. "Na sociedade pós-industrial, há muito mais oportunidades para as mulheres e caminhos que não passam necessariamente pela maternidade", disse.
Vicky Lovell, diretora do Institute of Women's Policy Research, centro de estudos sobre mulheres localizado em Washington, concorda. "Muitas jovens acham difícil conciliar a responsabilidade de ser mãe com a carreira profissional. Elas preferem esperar pelo momento certo para terem filhos, mas às vezes, esse momento não chega e elas desistem de ser mães", avaliou.
Optar pela maternidade não significa necessariamente um impedimento para o sucesso profissional. Essa é a avaliação de Meryle Mahrer Kaplan, diretora sênior da Catalyst, organização que estuda mulheres executivas.
Estudo realizado pela Catalyst mostra que 70% das executivas em cargo de diretoria ou presidência de empresas multinacionais são mães. A pesquisa entrevistou mulheres de empresas como a IBM e de bancos como o JP Morgan e o Citigroup.
"Isso mostra para as executivas, especialmente as que estão ingressando na carreira, que escolher não ter filhos é uma opção, mas não é uma imposição para conseguir sucesso profissional", avaliou Kaplan.

Futuro sem filhos?
O silêncio foi a motivação do casal Jerry Steinberg, 58, e sua mulher, Grace, 55 para não terem filhos. "Gostamos de crianças, mas não 24 horas por dia, sete dias por semana. Gostamos de chegar em casa e encontrar o silêncio", conta Jerry.
O problema, segundo ele, era encontrar outros amigos que partilhassem do mesmo ponto de vista. Por esse motivo, Jerry, que é canadense, criou uma associação para mulheres e casais que não querem ter filhos. O No Kidding - trocadilho com as palavras "kid" (criança) e "kidding" (brincadeira)- tem cerca de 10 mil membros em diversos países. Os EUA concentram o maior número de sócios. "Desde a criação do No Kidding, em 1984, o interesse só tem aumentado", afirmou.
O declínio drástico da taxa de natalidade é a outra face que pode ser revelada se essa tendência crescer. "Hoje ainda são minoria as mulheres que escolhem não ter filhos. Se esse número crescer, porém, podemos ter uma mudança importante na composição social. Teremos de contar cada vez mais com mão-de-obra de imigrantes", avaliou Popenoe.



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