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EUA
Número de mulheres que desiste de ter filhos para se dedicar à profissão cresce no país; apesar disso, 70% das executivas são mães
Mais americanas desistem da maternidade
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
O número de mulheres que desistem da maternidade para se dedicar à carreira profissional ou
simplesmente para ter mais tempo livre está em expansão no Estados Unidos.
Em 2002, cerca de 18% da população feminina entre 40 anos e 44
anos não tinha filhos. Em 1976, a
taxa era de 10%. Em outras faixas
etárias, o fenômeno se repete.
Mais de 45% das mulheres de 25
anos a 29 anos não são mães, contra 30,8% em 1976. Os dados são
de pesquisa realizada pelo Escritório do Censo dos EUA.
"Eu aprecio a minha liberdade e
a minha independência. Ser mãe
exigiria de mim muita dedicação,
muito tempo e dinheiro. Não me
arrependo de ter feito uma laqueadura de trompas", conta a
agente de viagens Jeanine James,
34, de Seattle.
Para James, que é divorciada, a
possibilidade ter mais tempo livre
para lazer foi o que pesou na hora
de decidir não ter filhos. "A minha profissão não me impediria
de ter filhos. Foi uma decisão pessoal. Não quero a responsabilidade de ter de cuidar de alguém.
Não tenho nem bicho de estimação. Se eu não quero trocar fraldas
de bebês, não vou querer me ocupar de limpar outras espécies",
brincou.
Oportunidades
Segundo David Popenoe, co-diretor do National Marrige Project
(projeto nacional de casamentos),
a opção pela carreira profissional
exerce uma grande influência entre as mulheres que decidem não
ter filhos. "Na sociedade pós-industrial, há muito mais oportunidades para as mulheres e caminhos que não passam necessariamente pela maternidade", disse.
Vicky Lovell, diretora do Institute of Women's Policy Research,
centro de estudos sobre mulheres
localizado em Washington, concorda. "Muitas jovens acham difícil conciliar a responsabilidade de
ser mãe com a carreira profissional. Elas preferem esperar pelo
momento certo para terem filhos,
mas às vezes, esse momento não
chega e elas desistem de ser
mães", avaliou.
Optar pela maternidade não
significa necessariamente um impedimento para o sucesso profissional. Essa é a avaliação de Meryle Mahrer Kaplan, diretora sênior
da Catalyst, organização que estuda mulheres executivas.
Estudo realizado pela Catalyst
mostra que 70% das executivas
em cargo de diretoria ou presidência de empresas multinacionais são mães. A pesquisa entrevistou mulheres de empresas como a IBM e de bancos como o JP
Morgan e o Citigroup.
"Isso mostra para as executivas,
especialmente as que estão ingressando na carreira, que escolher não ter filhos é uma opção,
mas não é uma imposição para
conseguir sucesso profissional",
avaliou Kaplan.
Futuro sem filhos?
O silêncio foi a motivação do casal Jerry Steinberg, 58, e sua mulher, Grace, 55 para não terem filhos. "Gostamos de crianças, mas
não 24 horas por dia, sete dias por
semana. Gostamos de chegar em
casa e encontrar o silêncio", conta
Jerry.
O problema, segundo ele, era
encontrar outros amigos que partilhassem do mesmo ponto de
vista. Por esse motivo, Jerry, que é
canadense, criou uma associação
para mulheres e casais que não
querem ter filhos. O No Kidding
- trocadilho com as palavras
"kid" (criança) e "kidding" (brincadeira)- tem cerca de 10 mil
membros em diversos países. Os
EUA concentram o maior número de sócios. "Desde a criação do
No Kidding, em 1984, o interesse
só tem aumentado", afirmou.
O declínio drástico da taxa de
natalidade é a outra face que pode
ser revelada se essa tendência
crescer. "Hoje ainda são minoria
as mulheres que escolhem não ter
filhos. Se esse número crescer, porém, podemos ter uma mudança
importante na composição social.
Teremos de contar cada vez mais
com mão-de-obra de imigrantes", avaliou Popenoe.
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