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GUERRA SEM LIMITES
Dois anos depois do 11 de Setembro, repressão das fontes de financiamento está perto da estaca zero
Caça ao dinheiro do terror não progride
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O plano parecia óbvio e sensato
logo após o 11 de Setembro: sufocar o terrorismo por meio da interrupção de suas fontes de financiamento. Passados dois anos, no
entanto, as coisas estão ainda
muito próximas da estaca zero.
Nos primeiros meses após o
atentado contra o World Trade
Center, uma rápida mobilização
de 144 países permitiu congelar
US$ 113 milhões de dólares supostamente pertencentes à Al Qaeda.
Foi um dos efeitos da pressão de
Washington e da solidariedade
internacional às vítimas norte-americanas. Mas a caça aos ativos
terroristas ficou por aí.
Se as coisas a seguir se complicaram foi porque as redes financeiras clandestinas são também
utilizadas pela corrupção e sobretudo pelo narcotráfico, que movimentam fundos mais volumosos.
Há a respeito documentos da
ONU e pautas das assembléias do
Gafi (Grupo de Ação Financeira
sobre a Lavagem de Capitais), sediado em Paris e ligado à OCDE
(Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico).
Não há estimativas precisas sobre o volume global de lavagem
de dinheiro. Seriam centenas de
bilhões de dólares por ano.
Quanto ao dinheiro à disposição do terrorismo islâmico, há o
relatório que a ONU publicou em
agosto do ano passado. O documento diz que apenas a Al Qaeda
ainda teria de US$ 30 milhões a
US$ 300 milhões. E receberia todos os anos algo em torno de US$
16 milhões.
A informação foi, na época,
contestada pelo Departamento
do Tesouro dos EUA, provavelmente porque indicaria certa ineficácia do cerco ao terror.
Segundo outro documento
também da ONU, este de fevereiro último, saíram da Arábia Saudita, país de Osama bin Laden,
US$ 500 milhões para a Al Qaeda
nos últimos dez anos. O governo
daquele país não conseguiu bloquear os dutos de financiamento.
Clima favorável
A ONU já aprovou por meio do
Conselho de Segurança duas resoluções que exortam os Estados-membros a reprimir a lavagem de
dinheiro destinada aos terroristas. Há no organismo internacional um grupo de especialistas encarregado de monitorar a Al Qaeda. Funciona também um segundo grupo, no Conselho de Segurança, e um terceiro, em Viena,
responsável por medidas de combate ao crime organizado.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) também entrou de início no mutirão para localizar ativos do terrorismo. Chegou a publicar um longo relatório em novembro de 2001. Mas não foi muito adiante por não estar tecnicamente equipado para atuar como
polícia financeira. Prefere assessorar seus membros para que eles
se regulamentem.
Já havia nos anos 90 um clima
internacional favorável ao combate coordenado da lavagem de
dinheiro. Falava-se mais em narcotráfico. Com o 11 de Setembro o
processo se dinamizou entre os
países islâmicos interessados em
boas relações com os EUA.
Exemplo: criou-se uma entidade de oito países (como Malásia,
Paquistão e Sudão) que procura
unificar critérios para a repressão
a entidades supostamente filantrópicas, mas que, na verdade, arrecadam fundos para guerrilheiros na Tchetchênia e alhures.
Há também fracassos flagrantes, como o de Bangladesh, onde,
segundo a BBC, um estudo revela
que traficantes, trabalhadores
emigrados e políticos corruptos
movimentaram US$ 6 bilhões em
dinheiro frio ou sujo no primeiro
semestre deste ano.
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