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"Operação marca derrota moral e militar das Farc"
Para analistas colombianos, ação que libertou Ingrid e mais 14 livra Uribe de pressões
Especialista acredita que sucesso do resgate se deveu à cooptação de "César", o chefe da frente da guerrilha responsável por reféns
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
Ao libertar Ingrid Betancourt sem disparar um tiro, o
presidente colombiano, Álvaro
Uribe, triunfa em várias frentes. Impõe uma humilhante
derrota militar e moral às Farc,
livra-se da pressão de líderes da
região e da Europa que preferiam uma saída negociada pela
paz com a guerrilha e, não menos relevante, ofusca seus problemas políticos internos.
"Essa notícia valida a política
de segurança democrática de
Uribe. Envia a mensagem: as
Farc estão derrotadas e não há
nada que negociar. Mais que
militar, foi uma vitória moral
sobre a guerrilha", diz Ariel
Ávila, coordenador do Observatório do Conflito Armado da
colombiana Fundação Novo
Arco-Íris. "Foi um xeque-mate
nas Farc", comemorou o comandante do Exército da Colômbia, Mario Montoya.
Depois de anos de apelos -de
líderes mundiais a familiares
dos reféns- para que Bogotá
não tentasse resgatar os seqüestrados, Uribe, com ajuda
técnica americana, exibiu o
preparo de seus militares e a
eficácia de sua política de linha
dura, co-financiada pelos EUA.
"Até onde se sabe, parece
uma operação brilhante", diz,
desde Bogotá, Markus Schultze-Kraft, diretor para a América Latina do centro de estudos
International Crisis Group.
Schultze-Kraft lembra que
não foi um resgate militar -opção que temiam pelo risco-,
mas uma operação de inteligência. "Em 2003, eles tentaram um resgate que acabou
com morte dos reféns. Essa
operação foi diferente."
Futuro das Farc
Também ressaltando o êxito
dos militares colombianos,
Ariel Ávila questiona a descrição da operação divulgada por
Bogotá, segundo a qual os dirigentes guerrilheiros foram enganados. "Parece-me estranho
que juntassem os reféns para
levá-los ao novo chefe, Alfonso
Cano, já que os próprios militares dizem que ele está em uma
área de intenso combate."
Continua: "Mais do que inteligência, parece fruto de uma
negociação entre o guerrilheiro
César [o responsável pelos reféns] e os militares. De todo
modo, é uma derrota moral. A
Frente 1 era a mais importante
das Farc", continua Ávila, cuja
fundação acompanha o conflito
armado desde 1994.
Sem os três americanos e
sem Ingrid, as Farc ficam sem
sua principal fonte de pressão
para negociar com Bogotá, depois de já haver perdido três integrantes da sua cúpula -incluindo o líder máximo e fundador, Manuel Marulanda.
A guerrilha está debilitada
-perdeu terreno e homens- e
sob forte ofensiva militar. A
própria Ingrid referiu-se ao tema: disse que havia um ano as
Farc tinham dificuldades para
fazer chegar mantimentos aos
reféns, por exemplo. "Foi um
golpe fulminante [na guerrilha]", disse.
"Não há mais espaço, como
queriam líderes europeus e da
região, para uma negociação de
paz com a guerrilha. Agora, como Uribe vinha dizendo, terão
de avaliar em que condições
vão se render", aponta Ávila.
Mas, dizem os especialistas, a
eventual liqüidação da cúpula
da guerrilha não é garantia do
fim dos conflitos armados,
principalmente no interior da
Colômbia, dada a grande capacidade de reacomodação dos
grupos ilegais, organizados, em
escala mais modesta, no bilionário negócio do narcotráfico,
que segue em expansão.
Os analistas apontam uma
vitória do eixo Bogotá-Washington, num momento de recuo estratégico do maior antagonista dessa aliança na região,
o presidente venezuelano, Hugo Chávez -que muitos, inclusive ex-reféns, apontavam como o único capaz de obter a libertação de Ingrid.
"Há várias ações da política
[de Uribe] que não são eficazes,
como o combate às drogas.
Mas, com essa vitória, Uribe ganha ainda mais respeito. Pouca
gente da oposição vai poder criticá-lo", diz Schultze-Kraft.
"Diante da vitória, os problemas com violações de direitos
humanos serão só uma manchinha na fotografia", diz Ávila.
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