São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

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Sangrento, ritual de vodu mistura oferendas, sacrifícios e transe

DO ENVIADO ESPECIAL AO HAITI

Eles estavam tão entusiasmados com a cerimônia que se propuseram até a matar um bode. A idéia foi felizmente descartada -iria custar bem mais caro. Os três jornalistas brasileiros que foram a um terreiro assistir a um ritual de vodu tiveram de se contentar com o sacrifício de um galo e duas galinhas.
O cinema americano criou uma visão distorcida do vodu, a religião afro-haitiana semelhante ao candomblé brasileiro. Logo se imaginam os zumbis, mortos-vivos de filme de terror, ou então os bonequinhos com agulhas espetadas para fazer mal a alguém.
Sim, assim como nos cultos afro-brasileiros, também pode haver esse tipo de magia negra no vodu. Mas o normal é um culto em que os espíritos são invocados e recebem oferendas; alguns encarnam nos praticantes, que entram em transe.
Moni Darius era o "houngan", o sacerdote vodu. Ele puxava o coro nos cânticos e tocava uma espécie de maracá sagrada, o "açon".
No chão do terreiro, foram desenhados os "veves" usando farinha de milho. Cada um desses desenhos invoca um determinado espírito. O "veve" representa o caminho que deve ser seguido pelos praticantes e pelos espíritos. São cuidadosamente feitos -e depois desfeitos pelos praticantes dançando furiosamente por cima.
Em uma mesa ficam as oferendas -cada uma de acordo com o gosto do espírito. Há os que gostam de banana, de abacaxi ou de café (com ou sem açúcar). Mas na mesa também há rum, espumante e refrigerantes, com destaque para Coca-Cola. Um praticante derrama um pouco de rum na entrada -como no Brasil se faz para o "santo".
Assim como nos cultos afro-brasileiros, há um claro sincretismo com santos da religião católica. "Erzuliefreda" representa a mulher virgem, associada à Virgem Maria; "Ogoun" é são Jorge, o Ogum do candomblé.
Por quase três horas tocam os tambores, instrumentos particularmente sagrados por combinarem a pele de um animal com a madeira de uma árvore. O ritmo é frenético. As mulheres começam a dançar com calma; então passam a cânticos mais agitados, e elas se jogam para todos os lados.
O ponto alto é o sacrifício do galo e das galinhas. Os animais mortos rodopiam nas mãos das mulheres entrando em transe. Algumas se jogam no chão, rolam sobre o corpo estrebuchante das aves e sobre o sangue. (RBN)


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