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Sangrento, ritual de vodu mistura oferendas, sacrifícios e transe
DO ENVIADO ESPECIAL AO HAITI
Eles estavam tão entusiasmados com a cerimônia que se propuseram até a matar um bode. A
idéia foi felizmente descartada
-iria custar bem mais caro. Os
três jornalistas brasileiros que foram a um terreiro assistir a um ritual de vodu tiveram de se contentar com o sacrifício de um galo
e duas galinhas.
O cinema americano criou uma
visão distorcida do vodu, a religião afro-haitiana semelhante ao
candomblé brasileiro. Logo se
imaginam os zumbis, mortos-vivos de filme de terror, ou então os
bonequinhos com agulhas espetadas para fazer mal a alguém.
Sim, assim como nos cultos
afro-brasileiros, também pode
haver esse tipo de magia negra no
vodu. Mas o normal é um culto
em que os espíritos são invocados
e recebem oferendas; alguns encarnam nos praticantes, que entram em transe.
Moni Darius era o "houngan", o
sacerdote vodu. Ele puxava o coro
nos cânticos e tocava uma espécie
de maracá sagrada, o "açon".
No chão do terreiro, foram desenhados os "veves" usando farinha de milho. Cada um desses
desenhos invoca um determinado espírito. O "veve" representa o
caminho que deve ser seguido
pelos praticantes e pelos espíritos. São cuidadosamente feitos
-e depois desfeitos pelos praticantes dançando furiosamente
por cima.
Em uma mesa ficam as oferendas -cada uma de acordo com o
gosto do espírito. Há os que gostam de banana, de abacaxi ou de
café (com ou sem açúcar). Mas
na mesa também há rum, espumante e refrigerantes, com destaque para Coca-Cola. Um praticante derrama um pouco de rum
na entrada -como no Brasil se
faz para o "santo".
Assim como nos cultos afro-brasileiros, há um claro sincretismo com santos da religião católica. "Erzuliefreda" representa a
mulher virgem, associada à Virgem Maria; "Ogoun" é são Jorge,
o Ogum do candomblé.
Por quase três horas tocam os
tambores, instrumentos particularmente sagrados por combinarem a pele de um animal com a
madeira de uma árvore. O ritmo
é frenético. As mulheres começam a dançar com calma; então
passam a cânticos mais agitados,
e elas se jogam para todos os lados.
O ponto alto é o sacrifício do
galo e das galinhas. Os animais
mortos rodopiam nas mãos das
mulheres entrando em transe.
Algumas se jogam no chão, rolam sobre o corpo estrebuchante
das aves e sobre o sangue.
(RBN)
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