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REINO UNIDO
Multiplicam-se casos em que a mídia e grupos muçulmanos se digladiam, com acusações de preconceito e agressão
Imprensa britânica e islã batem de frente
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
O Reino Unido tem assistido
nos últimos dias a uma crescente
onda de conflitos entre grupos
que representam muçulmanos e
alguns setores da mídia. O capítulo mais recente desse confronto
foi a demissão, na última semana,
de um assessor de imprensa do
British Council acusado de ter sido o autor de artigos ofensivos à
comunidade islâmica publicados
pelo jornal "Sunday Telegraph".
Harry Cummins, funcionário
do British Council -braço do governo cuja principal missão é promover a integração do Reino Unido com outros países-, havia sido apontado, há duas semanas,
por uma reportagem do jornal
"The Guardian" como o homem
que se escondeu atrás do pseudônimo de "Will Cummins".
Um desses artigos diz que "todos os muçulmanos, como todos
os cachorros, compartilham certas características". Outro afirma
que "é ao coração negro do islã,
não à sua face negra, que milhões
se opõem".
A notícia caiu como uma bomba no British Council, que acaba
de apoiar a publicação de uma
cartilha cujo objetivo é fornecer a
jornalistas informações sobre o
islã e comunidades islâmicas no
Reino Unido a fim de "evitar comentários ignorantes sobre muçulmanos". Na última quinta-feira, a instituição anunciou que
Cummins havia sido demitido.
O "Sunday Telegraph" não quis
comentar o assunto. Cummins-
que nega ter sido o autor dos artigos- não foi localizado.
Outros casos
O caso chamou a atenção devido à virulência dos artigos. Mas
conflitos entre a mídia e os muçulmanos não têm sido incomuns
no Reino Unido. Segundo especialistas, a maioria das situações
em que há sinais de racismo ou do
que os muçulmanos chamam de
"islamofobia" foram registrados,
até agora, em tablóides.
"Essa tendência existe, mas seria absolutamente errado afirmar
que é generalizada. Esse tipo de
racismo se restringe a alguns jornais populares que acham que representam a média da população
inglesa contra os "invasores", diz
Angela Phillips, professora do
Goldsmiths College e colaboradora do "Guardian". Ela diz que,
embora o racismo seja preocupante, a ocorrência de reações de
repúdio, como a do British Council, são um bom sinal.
Racismo
O jornalista Tim Gopsill, do sindicato dos jornalistas, diz que
"sem dúvida há racismo na mídia
britânica contra minorias étnicas", mas diz também que o problema é mais localizado no que
chama de "imprensa popular".
As organizações que representam muçulmanos, no entanto, dizem que o problema inclui, além
dos tablóides, veículos de direita.
"Antes do 11 de Setembro, a mídia dava muito espaço para os extremistas que nunca representaram a maioria dos muçulmanos.
Depois, passou a querer nos colocar na mesma caixa dos extremistas", diz Amas Altikriti, da Muslim Association of Britain (MAB).
Ao mesmo tempo em que afirmam que são vítimas de "islamofobia" por parte de alguns órgãos
de imprensa, as organizações de
muçulmanos também são acusadas de racismo por esses veículos.
Ao longo do mês passado, por
exemplo, a MAB se envolveu em
uma polêmica com o jornalista
Anthony Browne, do "Times",
que afirmou, em um artigo, que a
organização tem preconceito
contra os judeus.
Disse ainda que a MAB possui
vínculos com grupos e pessoas ligadas ao terror.
Altikriti se defende dizendo que
a organização não é contra judeus. "Ser contra os judeus seria o
mesmo que ser contra o islã, porque nós os consideramos como
nós mesmos. Há, inclusive, judeus que trabalham conosco".
Admite, no entanto, que a MAB é
"anti-Israel". "Isso nós nunca negamos", afirma.
Em relação ao terrorismo, ele
diz o seguinte: "Uma coisa crucial
em qualquer sociedade é que exista um nível básico de confiança
entre as pessoas. Se eu digo que
somos contra o terrorismo e não
acreditam em mim, o que eu posso fazer para convencer as pessoas?", pergunta.
Liberdade de imprensa
De forma geral, os jornalistas
envolvidos em polêmicas se defendem afirmando que estão apenas exercendo sua liberdade de
imprensa.
Segundo Stephen Abell, diretor-assistente da Press Complaints
Commission-organização encarregada de arbitrar reclamações
contra a imprensa-, o código de
ética da profissão no país diz que
os jornalistas são livres para emitir sua opinião desde que não forneçam informações erradas.
Para Shareefa Fulht, da Muslim
Youth Helpline -serviço de
orientação a jovens muçulmanos-, há, de fato, críticas crescentes da mídia contra muçulmanos. Porém, diz ela, "é isso o que
se tem numa sociedade livre".
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