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RÚSSIA
Desde 94, estima-se que 62 mil pessoas tenham morrido
Direitos humanos são violados por Moscou e por rebeldes tchetchenos
DA REDAÇÃO
Violações aos direitos humanos, cometidas tanto pelas forças
russas quanto pelos rebeldes
tchetchenos, são moeda corrente
no conflito na república independentista da Tchetchênia, deixando a população civil sem saída
aparente e provocando um grande movimento de refugiados.
"A situação dos direitos humanos é dramática na Tchetchênia.
Primeiro, como sua austeridade
em relação aos guerrilheiros lhe
valeu a eleição presidencial, em
março de 2000, o presidente [Vladimir] Putin tem apostado numa
solução militar para o conflito, o
que abre caminho para abusos",
indicou Andrew Bennett, da Universidade de Georgetown (EUA).
"Segundo, como sua popularidade se mantém elevada e o 11 de
Setembro lhe propiciou um ótimo pretexto para massacrar os rebeldes, Putin não vê razão para
mudar de método. Mesmo assim,
nos últimos meses, ele tem se esforçado para mostrar que a "normalidade" está voltando à região.
Assim, parte do Exército foi retirada da Tchetchênia, porém ela
foi substituída pelo FSB [Serviço
de Segurança Federal], o sucessor
da KGB [serviço secreto soviético]", acrescentou Bennett.
Contudo, para Mark Kramer,
da Universidade Harvard (EUA ),
o Kremlin não é o único culpado
pela escalada da violência no Cáucaso nos últimos quatro anos.
"Os tchetchenos controlaram a
cena política da república de 1996
a 1999, no entanto não conseguiram recolocá-la numa situação
razoável. Por conta de disputas
pelo poder e do não-cumprimento da promessa russa de ajudar financeiramente na reconstrução, a
região transformou-se num bastião de ilegalidade", disse Kramer.
Segundo uma estimativa publicada há duas semanas no jornal
independente russo "Novaya Gazeta", cerca de 12 mil militares
russos morreram nas duas guerras na Tchetchênia, desde 1994.
Mas, como salientou Bennett,
"a conta dos russos não é transparente, pois, por exemplo, eles não
classificam os soldados que são
feridos na Tchetchênia, mas que
morrem em outras partes da Rússia, de baixas do conflito tchetcheno". "Assim, o número de mortos
é bastante superior ao anunciado
oficialmente", indicou Bennett.
"Além disso, do lado tchetcheno, as mortes de civis não são
computadas, o que também enviesa a análise dos fatos. É muito
complexo obter provas concretas
que sustentem qualquer tese relacionada ao número de vítimas, já
que fontes imparciais não têm
acesso à região", completou. Organizações de defesa dos direitos
humanos dizem que cerca de 50
mil tchetchenos -civis e rebeldes- morreram nos últimos dez
anos em razão do conflito.
A Anistia Internacional (AI) publicou, na última quinta-feira, um
relatório sobre a Justiça russa e os
direitos humanos no país. No texto, ela faz duras críticas ao Kremlin por conta dos abusos verificados na Tchetchênia, que incluem
desaparecimentos, mortes e estupros cometidos por militares. De
acordo com a AI, 178 mil pessoas
tiveram de abandonar suas casas
por causa dos combates. A população tchetchena é de cerca de 1
milhão de habitantes.
O silêncio da comunidade internacional acerca das atrocidades
cometidas por tropas russas contra civis tchetchenos e por rebeldes separatistas contra civis russos tem levado organizações de
defesa dos direitos humanos a
exigir uma tomada de posição dos
líderes políticos ocidentais.
Contudo, na cena internacional,
o fator humanitário não é o único
que leva os países mais poderosos
a agir. "Quando fatores econômicos e de segurança, além dos direitos humanos, apontam para
uma resposta drástica, como
ocorreu por ocasião da invasão do
Kuait pelo Iraque [1990], o Ocidente intervém", disse Bennett.
"Na Tchetchênia, o conflito não
afeta os interesses dos países ocidentais nem ameaça disseminar-se. Assim, a preocupação passa a
ser exclusivamente humanitária.
Entretanto, para o Ocidente, as
boas relações com a Rússia são
prioritárias", acrescentou.
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)
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