São Paulo, quarta-feira, 05 de outubro de 2011

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Dilma cobra controle de capitais pelo G20

Presidente diz a líderes da União Europeia que estratégia de austeridade e aumento de impostos "não é suficiente"

Mandatária afirma que taxa de movimentação financeira em estudo no bloco não deve resolver problema na Europa


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS

A presidente Dilma Rousseff cobrou ontem uma "supervisão muito clara" a respeito dos fluxos de capitais, que estão "fora de controle" e são "fonte inesgotável de problemas".
A afirmação foi feita ao encerrar sua visita a Bruxelas e abre nova vertente na agenda do G20 já que Dilma pretende levá-la à cúpula de novembro desse clube das maiores economias globais. Mas a presidente não encampou a proposta que está em debate na Europa, de uma taxa sobre movimentações financeiras: "Não acho que isso resolve".
Mas, disse que estudaria o assunto já que a UE pretende levá-lo ao G20. Dilma acha que cada país deve tomar suas próprias medidas -citando o aumento do IOF sobre derivativos, de seu governo.
Até agora, o dilema para a cúpula do G20 estava em decidir o que é prioritário: estimular as economias do mundo rico, adiando os ajustes fiscais recessivos, ou fazer o contrário, para que o ajuste alavanque o crescimento.
Esse dilema apareceu ontem na 5ª reunião de cúpula Brasil/União Europeia. O presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, defendeu o caminho da Europa feito de cortes de gastos e aumento de impostos, sem levar em conta o efeito do ajuste sobre o desempenho da economia. Dilma rebateu: "Não é suficiente".
Depois, de público, a presidente repetiu o que dissera na véspera: "A saída da crise somente virá pelo estímulo ao crescimento econômico".
A portas fechadas, tanto Rompuy como José Manuel Durão Barroso trataram de convencer Dilma de que a Europa sairá da crise. Em público, Rompuy repetiria a convicção com maior firmeza: "Faremos o que for necessário. Venceremos a batalha".
Dilma deu o maior apoio, em público, embora não esteja convencida do acerto da estratégia de austeridade: "O êxito da União Europeia é extremamente importante não só para os europeus mas para a humanidade".
Maior elogio, quase impossível. O que dá razão a Durão Barroso quando eleva o relacionamento Brasil/UE do nível de "parceria estratégica" ao de "cumplicidade estratégica". Afinal, segundo Barroso, o investimento direto europeu no Mercosul (principalmente no Brasil, como é óbvio) supera os investimentos somados na Rússia, China e Índia.
Não é apenas uma questão econômica, mas também de valores que as duas partes compartilham, como a democracia, o respeito aos direitos humanos e "à economia social de mercado", como disse o presidente do Conselho.
Dilma insistiu na necessidade de adotar na cúpula do G20 "todas as medidas de coordenação macroeconômica" (entre elas, a regulação das movimentações financeiras). Seria um retorno às origens: o G20 nasceu para dar uma resposta à crise de 2008.
Agora, no entanto, há pelo menos duas respostas para a nova fase da crise: Brasil e EUA querem estimular as economias ao passo que os países europeus entraram em uma feroz campanha de ajustes fiscais com o consequente componente recessivo.
Os "cúmplices" da fala de Barroso (com apoio de Dilma) não são tão cúmplices assim na avaliação da crise. A presidente não se importa: "A única coisa que não se pode ter nas relações internacionais é uma certa soberba, que, aliás, nós conhecemos porque tiveram com a gente.
Não se trata de convencer ninguém, mas de conversar de forma bastante objetiva".


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