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INIMIGO
O filósofo francês Paul Virilio diz que EUA tiveram de "inventar" um inimigo por meio da propaganda para poder atacar o Iraque
Inventado pela propaganda
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Paul Virilio, 70, urbanista e filósofo francês, afirma que, para o
novo conflito no Iraque, os Estados Unidos precisaram "inventar" o inimigo. A invenção ocorre
pela propaganda e sobretudo pelo
aparato de comunicação que permitiu essa guerra on-line.
Em entrevista à Folha, diz que
"o campo de percepção de uma
guerra é mais importante que o
campo de batalha propriamente
dito". Ou seja, a atual guerra privilegia a conquista do espaço virtual, tanto quanto a conquista do
espaço territorial iraquiano.
Virilio é um pensador de extrema originalidade e nem sempre
de fácil compreensão. Caminha
contra a corrente e atropela sólidos consensos globalizados. Não
acredita, por exemplo, que a tecnologia de ponta na área da informação tenha algo a ver com o
progresso. Ele argumenta que em
verdade constroem-se obstáculos
perigosos às liberdades.
A coalizão anglo-americana, diz
Virilo, ameaça a democracia, porque o combate on-line acaba desembocando numa "sincronização das emoções", que conduz à
perda coletiva do espírito crítico
e, no momento seguinte, ao risco
da idolatria. É mais grave que a
padronização das opiniões a que
se chegou no século 20. Sem a opinião diversificada, o processo democrático já está comprometido.
Entre outros diagnósticos, ele
diz que a ciência deixou de ser um
agente de civilização para se tornar um instrumento militar.
Além de obras sobre arquitetura e urbanismo, Paul Virilio publicou 16 ensaios filosóficos, quatro deles traduzidos no Brasil pela
Estação Liberdade e Editora 34
("Estratégia da Decepção", "Velocidade e Política", "A Bomba Informática" e "O Espaço Crítico").
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