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SUCESSÃO NOS EUA / MUDANÇA DE RUMO
Em busca de moderados, Obama dá guinada à direita
Risco é repetir erro de Gore em 2000, ao parecer não defender propostas coerentes
Na última semana, ele deu versão mais conservadora para Guerra do Iraque, aborto e programas federais de apoio a grupos religiosos
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Barack Obama tem deixado a
direita perplexa e a esquerda
indignada. Em busca do voto do
eleitor norte-americano moderado, o senador democrata vem
abandonando um a um pontos
da plataforma progressista que
lhe valeu a indicação virtual a
candidato da oposição à sucessão de George W. Bush.
A guinada conservadora começou já no dia seguinte ao que
declarou que era o escolhido de
seu partido, em 3 de junho,
quando discursou ao lobby israelense e disse que Jerusalém
era indivisível, uma posição hoje só defendida pela direita de
Israel. Mas vem se intensificando nos últimos dias e promete se prolongar.
Só na última semana, Obama
apresentou uma versão mais
conservadora de sua visão para
a Guerra do Iraque, a lei que regula os métodos de espionagem
eletrônica implantados por
Bush, os programas federais de
apoio a grupos religiosos e o direito ao aborto.
Um dos primeiros políticos a
criticar publicamente a invasão
norte-americana, Obama disse
na quinta que "ajustará" seu
cronograma de retirada das
tropas americanas do solo iraquiano, antes de até 16 meses.
Dias antes, avisara que votaria a favor de medida que atualiza o Ato de Vigilância de Inteligência Estrangeira (FISA). A
lei exime as companhias telefônicas de culpa retroativa por terem permitido escutas não amparadas por mandado judicial;
Obama era contra a ampliação.
No mesmo dia em que fez o
novo discurso sobre o Iraque,
veio a público uma entrevista
que deu à revista cristã "Relevant". Nela, diz que "sofrimento mental" da mulher não é justificativa para o aborto tardio,
prática restrita por lei federal.
A posição contraria sua defesa
anterior e as organizações pró-aborto, que apoiavam Hillary
Clinton e passaram a apoiar
Obama quando ele venceu.
Obama criticou ainda decisão recente da Suprema Corte
de não permitir pena de morte
para estupradores de crianças e
não criticou outra decisão da
corte que na prática suspende a
proibição de porte de arma em
Washington, contradizendo de
novo declarações anteriores.
Por fim, discursou, em Ohio,
que não só vai continuar os polêmicos programas federais de
Bush de auxílio grupos religiosos que prestam assistência social como quer expandi-los.
Riscos
É comum que, uma vez consagrado candidato, o aspirante
à Presidência dos EUA caminhe para o centro do espectro
político, em busca de ampliar
sua base de eleitores. Aconteceu com Ronald Reagan, que
assinou uma lei ultraliberal
pró-aborto nos anos 60, ainda
como governador da Califórnia, para depois se declarar
contra a prática, em sua corrida
presidencial, décadas depois.
Vem acontecendo o mesmo
com o senador John McCain,
oponente de Obama, mas em
sinais semelhantes ao do democrata, por conta de sua biografia independente. Também
o republicano vai para a direita
vindo de posições mais progressistas. Era contra construir
muro no México como medida
antiimigração ilegal, por exemplo, e agora se diz a favor.
"O perigo aí é Obama repetir
o erro de Al Gore em 2000",
disse à Folha Mark Weisbrot,
co-diretor do progressista Centro para Pesquisa Econômica e
de Política, de Washington. Para o analista, o então candidato
democrata não conquistou o
eleitor independente e acabou
alienando parte da base de seu
partido. "Os moderados costuma votar na pessoa, e não na
proposta. Se percebem que a
pessoa não parece acreditar de
verdade em nenhuma proposta, votam no adversário."
A movimentação provocou
de editoriais no "New York Times" e no "Wall Street Journal", os dois principais jornais
nacionais norte-americanos, e
gritaria entre analistas. O diário econômico chegou mesmo
a dizer que era a eleição de
Obama, e não a de McCain, que
representava o terceiro mandato de Bush. Obama se defendeu atacando McCain. "Ele
mudou de lado em várias questões importantes ao longo da
campanha. Não ligo de debater
com ele sobre coerência."
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