São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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Israel deixa no ar ameaça de atacar o Irã contra bomba

País realiza exercícios militares e esquenta retórica para pressionar governo iraniano a pôr fim a programa nuclear

Estudo divulgado em todo o mundo por grupo sediado nos EUA diz que impacto de bombardeio seria menos dramático do que o previsto


SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Contrariando as negociações que tem anunciado com outros rivais regionais, como a Síria e o Hizbollah libanês, Israel está promovendo uma sonora campanha para deixar claro que pode atacar o Irã até o fim deste ano se Teerã não suspender seu programa nuclear.
Dirigentes políticos e militares israelenses argumentam que os apelos reiterados do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, pela destruição do Estado judaico tornam-se cada vez mais perigosos, já que Teerã, segundo a inteligência israelense, pode estar a dois anos de ter a bomba atômica.
A previsão difere da última Estimativa Nacional de Inteligência americana, segundo a qual o Irã teria abandonado em 2003 seu programa nuclear secreto. Atualmente, Israel tem a vantagem estratégica de ser o único país com armas nucleares do Oriente Médio.
O governo iraniano insiste em que suas instalações nucleares servem apenas para a produção de energia e negocia com o Ocidente uma solução que lhe permita continuar enriquecendo urânio -o que pode fazer sob o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, mas desde que em cooperação e sob a vigilância da Agência Internacional de Energia Atômica.
Diante do que considera inépcia dos esforços diplomáticos, Israel resolveu deixar mais claros seus planos militares.
No início do mês passado, a Força Aérea israelense realizou manobras envolvendo cem aviões no Mediterrâneo, num exercício apresentado como um ensaio para um ataque ao Irã. Dias atrás, o vice-premiê Shaul Mofaz declarou que o único meio de evitar que o Irã consiga uma bomba atômica é atacando o país. Teerã prometeu resposta arrasadora.
Os temores aumentaram quando o premiê Ehud Olmert reuniu-se para consultas com o estrategista militar Aviam Sela, idealizador do fulminante bombardeio à central nuclear iraquiana de Osirak, em 1981.

Mensagens contraditórias
Grupos pró-Israel nos EUA e no Reino Unido lançaram recentemente uma operação de relações públicas sobre os planos de um ataque.
O primeiro argumento é de que o Irã seria uma teocracia perigosa que seguirá ludibriando o mundo até conseguir um arsenal atômico. O segundo, o de que um bombardeio preciso não teria o impacto dramático que muitos temem, já que o regime dos aiatolás estaria isolado, tem Exército sucateado e, no passado, não reagiu à altura quando atacado.
O americano Israel Project distribuiu o relatório "Conseqüências de uma ação militar preventiva contra o Irã" a jornalistas do mundo todo. O documento, assinado por Michael Einsenstadt, insinua que um ataque é quase inevitável.
O caso originou mensagens contraditórias nos EUA, maior aliado de Israel. A revista "New Yorker" revelou que Washington estaria financiando operações secretas dentro do Irã. E o ex-embaixador dos EUA na ONU John Bolton pediu pressa, recomendando um ataque antes que George W. Bush deixe o poder, em janeiro de 2009.
Anteontem, um almirante americano disse que é o Irã que está prestes a atacar Israel, e não o contrário. Mas Bush, em meio à atual alta do petróleo, adotou um tom apaziguador e afirmou que o caso do Irã -dono de amplas reservas de petróleo e gás- pode ser resolvido pela via diplomática. À Folha fontes do governo israelense fizeram questão de deixar a dúvida no ar, dizendo que o "Irã não ameaça apenas Israel".


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