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Israel deixa no ar ameaça de atacar o Irã contra bomba
País realiza exercícios militares e esquenta retórica para pressionar governo iraniano a pôr fim a programa nuclear
Estudo divulgado em todo o mundo por grupo sediado nos EUA diz que impacto de bombardeio seria menos dramático do que o previsto
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Contrariando as negociações
que tem anunciado com outros
rivais regionais, como a Síria e o
Hizbollah libanês, Israel está
promovendo uma sonora campanha para deixar claro que pode atacar o Irã até o fim deste
ano se Teerã não suspender seu
programa nuclear.
Dirigentes políticos e militares israelenses argumentam
que os apelos reiterados do presidente iraniano, Mahmoud
Ahmadinejad, pela destruição
do Estado judaico tornam-se
cada vez mais perigosos, já que
Teerã, segundo a inteligência
israelense, pode estar a dois
anos de ter a bomba atômica.
A previsão difere da última
Estimativa Nacional de Inteligência americana, segundo a
qual o Irã teria abandonado em
2003 seu programa nuclear secreto. Atualmente, Israel tem a
vantagem estratégica de ser o
único país com armas nucleares do Oriente Médio.
O governo iraniano insiste
em que suas instalações nucleares servem apenas para a
produção de energia e negocia
com o Ocidente uma solução
que lhe permita continuar enriquecendo urânio -o que pode
fazer sob o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, mas desde que em cooperação e sob a
vigilância da Agência Internacional de Energia Atômica.
Diante do que considera
inépcia dos esforços diplomáticos, Israel resolveu deixar mais
claros seus planos militares.
No início do mês passado, a
Força Aérea israelense realizou
manobras envolvendo cem
aviões no Mediterrâneo, num
exercício apresentado como
um ensaio para um ataque ao
Irã. Dias atrás, o vice-premiê
Shaul Mofaz declarou que o
único meio de evitar que o Irã
consiga uma bomba atômica é
atacando o país. Teerã prometeu resposta arrasadora.
Os temores aumentaram
quando o premiê Ehud Olmert
reuniu-se para consultas com o
estrategista militar Aviam Sela,
idealizador do fulminante
bombardeio à central nuclear
iraquiana de Osirak, em 1981.
Mensagens contraditórias
Grupos pró-Israel nos EUA e
no Reino Unido lançaram recentemente uma operação de
relações públicas sobre os planos de um ataque.
O primeiro argumento é de
que o Irã seria uma teocracia
perigosa que seguirá ludibriando o mundo até conseguir um
arsenal atômico. O segundo, o
de que um bombardeio preciso
não teria o impacto dramático
que muitos temem, já que o regime dos aiatolás estaria isolado, tem Exército sucateado e,
no passado, não reagiu à altura
quando atacado.
O americano Israel Project
distribuiu o relatório "Conseqüências de uma ação militar
preventiva contra o Irã" a jornalistas do mundo todo. O documento, assinado por Michael
Einsenstadt, insinua que um
ataque é quase inevitável.
O caso originou mensagens
contraditórias nos EUA, maior
aliado de Israel. A revista "New
Yorker" revelou que Washington estaria financiando operações secretas dentro do Irã. E o
ex-embaixador dos EUA na
ONU John Bolton pediu pressa, recomendando um ataque
antes que George W. Bush deixe o poder, em janeiro de 2009.
Anteontem, um almirante
americano disse que é o Irã que
está prestes a atacar Israel, e
não o contrário. Mas Bush, em
meio à atual alta do petróleo,
adotou um tom apaziguador e
afirmou que o caso do Irã -dono de amplas reservas de petróleo e gás- pode ser resolvido
pela via diplomática. À Folha
fontes do governo israelense fizeram questão de deixar a dúvida no ar, dizendo que o "Irã
não ameaça apenas Israel".
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