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Visita sela reconciliação de EUA e Líbia
Secretária de Estado vai a Trípoli e janta com ditador Gaddafi, mentor de ataque a Boeing que matou 180 americanos em 1988
Rice diz que os EUA não têm
inimigos permanentes; Líbia, dona de nona reserva mundial de petróleo, vai ressarcir famílias de vítimas
DA REDAÇÃO
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, fez
ontem uma visita de poucas horas à Líbia, onde jantou com o
ditador Muammar Gaddafi e
selou a reconciliação de Washington com um governante
designado nos anos 80 pelo então presidente Ronald Reagan
de "cachorro hidrófobo".
Rice afirmou que sua visita
"demonstra que os EUA não
têm inimigos permanentes" e
nunca congelam em definitivo
relações bilaterais.
O último secretário de Estado a visitar a Líbia havia sido
John Foster Dulles, em 1953.
Quatro anos depois esteve em
Trípoli o então vice-presidente
americano, Richard Nixon.
Gaddafi chegou ao poder em
1969, com o golpe militar que
derrubou o rei Idris 1º. É um
dos mais longevos ditadores do
planeta.
Mas não foi pelo autoritarismo que Washington o isolou. O
governo americano o classificou entre os "Estados que patrocinam o terrorismo", em razão do treinamento a radicais
palestinos, republicanos irlandeses e uma dezena de grupos
insurgentes africanos.
A Líbia esteve por trás do
atentado que, em 1988, derrubou o Boeing 747 da Pan Am,
em Lockerbie, Escócia. Morreram os 259 passageiros e tripulantes -180 eram americanos- e ainda 11 pessoas em terra. Naquele ano, bomba colocada por agentes líbios numa discoteca de Berlim matou três
americanos e feriu 229 pessoas.
Em represália, os EUA bombardearam Trípoli e Benthazi,
matando 40 pessoas, entre elas
uma filha adotiva de Gaddafi.
A ditadura líbia passou também a desenvolver um programa clandestino para a construção da bomba atômica, com
projetos e equipamentos contrabandeados do Paquistão.
O recuo de 2003
Objeto de sanções americanas e das Nações Unidas, Gaddafi se reaproximou do Ocidente em 2003, com a intermediação do então premiê britânico,
Tony Blair. Abandonou suas
ambições nucleares e delatou
integrantes do mercado negro
de componentes atômicos.
Passou a negociar com os Estados Unidos a entrega dos
agentes que instalaram a bomba no Boeing da Pan Am e a indenização das vítimas. No mês
passado foi assinado protocolo
que prevê US$ 1,5 bilhão a familiares de americanos mortos
no atentado. Em troca, a Líbia
receberia US$ 300 milhões pelas vítimas dos bombardeios
ordenados por Reagan.
"Ninguém conseguiria curar
as feridas das famílias vitimadas por ataques terroristas, e é
por isso que procuramos tão intensamente meios para compensá-las", disse ontem Rice.
Mas há também a dimensão
econômica. O governo americano tem sido pressionado por
empresários que lamentam a
supremacia dos europeus naquele país norte-africano, que
tem a nona reserva mundial de
petróleo (39 bilhões de barris) e
áreas a serem ainda exploradas.
Rice declarou ontem que a
questão é importante, mas que
as relações com a Líbia têm um
potencial bem mais amplo.
A porta-voz da Casa Branca,
Dana Perino, disse que seu país
"tem uma história longa e ruim
com a Líbia", que, no entanto,
"modificou radicalmente seu
comportamento", ao abandonar o terrorismo e a bomba.
Entre as questões pendentes
há os direitos humanos. Personalidades americanas de porte,
como o senador Joe Biden
-candidato a vice de Barack
Obama- esforçam-se para libertar Fathi al Jahmi, um dissidente reformista. Entidades de
direitos humanos denunciam a
existência na Líbia de centenas
de prisioneiros políticos.
Com agências internacionais
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