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Saúde frágil aumenta questionamentos sobre liderança do papa, que pode recolher-se definitivamente a mosteiro polonês, em agosto
Até quando?
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
No mês que vem, o papa João
Paulo 2º, 82, pode fazer uma viagem só de ida à sua terra natal, a
Polônia, onde anunciaria a renúncia à liderança católica em sua
ex-diocese (na Cracóvia) e se recolheria a um mosteiro em oração, segundo rumores atribuídos
a assessores próximos a ele.
A deterioração de sua saúde aumentou os questionamentos sobre até quando a igreja pretende
mantê-lo à frente do cerca de 1 bilhão de católicos e sobre como seria a sucessão no caso de uma renúncia ou da constatação de incapacidade para ocupar o trono de
são Pedro -inédita em um cenário desses nos tempos modernos.
Não há quase nada anunciado
no cronograma papal após agosto, quando o número de cardeais
que compõem o Colégio Cardinalício, indicados em sua quase totalidade por Karol Wojtyla, fica
próximo a 120 -tradicional para
a realização de um conclave.
Quando um papa morre -ou
renuncia-, cardeais de menos de
80 anos podem participar do conclave que elege um sucessor entre
os reunidos em assembléia.
Desde 1993, o papa tem manifestado sintomas claros do mal de
Parkinson, uma desordem do sistema nervoso. Entre esses indícios, destacam-se um tremor quase incontrolável de seu braço esquerdo e uma rigidez de seus
músculos faciais, dando ao pontífice uma expressão de fragilidade.
O papa sofre também de uma
artrose no joelho e das consequências do atentado a tiros que
quase o matou em 1981. De tempos em tempos surgem rumores
de que uma operação ortopédica
será necessária, já que João Paulo
2º reclama de dores nas juntas.
Nas últimas semanas, vem recebendo as visitas em seu apartamento particular no terceiro andar do palácio apostólico, no Vaticano, em vez de recebê-las no segundo andar do prédio, aconselhado por médicos devido à sua
dificuldade de caminhar
Fim do tabu
Pouco antes de o papa completar 82 anos (em 18 de maio), O
cardeal alemão Joseph Ratzinger,
prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé, que personifica a
voz da ortodoxia católica, e subdeão do Colégio Cardinalício, tornou-se o mais importante clérigo
a falar em uma possível renúncia.
Um repórter de um jornal religioso de Munique perguntou se
Ratzinger sabia o que papa pensava sobre um eventual recolhimento. "Eu ainda não lhe perguntei nada sobre isso, mas, se ele
percebesse que não poderia absolutamente [continuar", com certeza ele renunciaria", argumentou o cardeal.
Em 16 de maio, o cardeal hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga também foi questionado se
ele acreditava que um dia o papa
se sentiria compelido a renunciar.
"O papa sente a responsabilidade
de seu ministério e, no dia em que
sentir que não pode mais continuar, vai renunciar", afirmou.
"Acho que ele teria a coragem de
se aposentar caso problemas de
saúde o proibissem de realizar seu
ministério", disse o arcebispo de
Tegucigalpa.
Carta secreta
Outra teoria diz que Karol
Wojtyla (nome de batismo do papa) teria entregue uma carta secreta, sem data, a seu secretário
pessoal desde os tempos da Cracóvia, Stanislaw Dziwisz (também
polonês), na qual abordaria a
questão de sua renúncia.
Foi Dziwisz, que mantém contato permanente com o papa,
quem confirmou que ele vai visitar a Polônia entre 16 e 19 de agosto. Na agenda oficial do Vaticano,
não há nada indicado após esse
mês, embora uma viagem à Croácia, em setembro, esteja "em preparação", de acordo com autoridades eclesiásticas.
A carta teria sido redigida como
precaução em razão da vitaliciedade do papado e com o intuito
de evitar uma paralisia administrativa se o líder da Igreja Católica
não pudesse expressar a decisão
de renunciar.
O Código de Direito Canônico
não especifica o que deve ser feito
caso o papa perca as faculdades
mentais. Assim, ele próprio teria traçado uma
linha de ação, tal como fez o papa
Paulo 6º, que deixou uma carta de
natureza semelhante com seu secretário pessoal, o arcebispo Pasquale Macchi, para que a abrissem se ele fosse considerado mentalmente incapaz.
Segundo Macchi relata em um
livro, a carta não chegou a ser
aberta porque o pontificado de
Giovanni Battista Montini teve
um final normal, com sua morte,
em agosto de 1978.
Ao tomar como base a experiência dos jesuítas, José María de
Vera, diretor de imprensa e informação da Companhia de Jesus,
em Roma, considera ""verossímil"
a existência da carta. ""É costume
na Companhia de Jesus que o padre-geral deixe uma carta selada
com seu secretário pessoal, contendo orientações sobre as medidas a serem tomadas no caso de
ele, por exemplo, entrar em estado de coma", explica De Vera.
As viagens papais não contestam a hipótese da carta de renúncia, segundo analistas. Enquanto
tiver forças, o papa vai procurar
manter-se no cargo. ""Vou visitar
igrejas e países distantes porque
isso faz parte de minha missão,
para promover a unidade de todo
o povo de Deus", disse ele.
O escritor e biógrafo Vittorio
Messori, ligado ao Opus Dei, acha
plausível a existência do documento, pois o mal de Parkinson
geralmente leva a uma incapacidade física e, segundo ele, ""65%
dos doentes de Parkinson com
mais de 80 anos de idade apresentam sintomas graves de déficit
cognitivo".
Mas a suposta carta-testamento
do papa divide especialistas.
"Quem vai lhe dizer: santo padre, você está incapacitado? Esse é
o problema", diz o teólogo Charles Burns, que trabalhou mais de
25 anos nos arquivos do Vaticano.
Na opinião do monsenhor e
teólogo George Cottier, trata-se
de "pura especulação".
Para o cardeal Joachim Meisner
(da Alemanha), considerado próximo ao papa, a fragilidade do líder religioso o beneficia e se tornou um "símbolo da igreja".
Meisner rejeitou os rumores de
renúncia e disse que o papa vai
manter sua visita ao México, programada para dias 30 e 31 de julho
e 1º de agosto. João Paulo 2º celebrará a canonização de um indígena mexicano.
Enquanto isso, aumentam as articulações dos interessados em se
tornar o sucessor de são Pedro,
que disputam espaço em torno do
papa e tentam formar bases de
apoio para o futuro conclave.
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