|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sob intensa perseguição há dois anos, organização do saudita Bin Laden continua agindo aliada a outros grupos terroristas
Mesmo acuada, Al Qaeda ameaça
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
A Al Qaeda, responsável pelo 11
de Setembro, sofreu um duro golpe desde 2001, com a prisão ou a
morte de muitos de seus membros, mas a rede terrorista continua ativa e decidida a realizar
atentados. E seu maior líder, o
saudita Osama bin Laden, continua desaparecido, transformado
em símbolo do extremismo islâmico e da luta contra os EUA.
Para o cingalês Rohan Gunaratna, autor do livro "Inside Al Qaeda - Global Network of Terror"
(dentro da Al Qaeda - rede global
do terror), da Columbia University Press, a Al Qaeda e suas organizações associadas constituirão
uma ameaça significativa em 2003
e nos próximos anos.
Logo após a Guerra do Iraque,
funcionários de agências de inteligência dos EUA mostraram um
certo otimismo devido ao fato de
a rede terrorista não ter conseguido realizar um ataque de grandes
proporções durante o conflito.
Esse silêncio momentâneo reforçou a percepção nos EUA de
que a capacidade operacional da
Al Qaeda estaria severamente
comprometida. Mas o otimismo
logo explodiu pelos ares, pois já
em maio, pouco depois de o presidente George W. Bush anunciar o
final da fase dos principais combates no Iraque, a ameaça descrita
por Gunaratna concretizou-se.
No intervalo de apenas alguns
dias, houve atentados em Riad
(Arábia Saudita), na Tchetchênia,
no Paquistão e em Casablanca
(Marrocos). Embora não haja
provas definitivas, há indícios de
que os atentados tiveram o dedo
da Al Qaeda.
Em agosto, um terrorista suicida se explodiu diante do hotel
Mariott em Jacarta, na Indonésia.
Dois dias depois, um caminhão-bomba foi deixado em frente à
Embaixada da Jordânia no Iraque. No dia 19, foi a vez de a sede
da ONU em Bagdá ser atingida
por um atentado. E, no dia 29, o
alvo foi a cidade de Najaf, sagrada
para os xiitas iraquianos. Mais
uma vez, não há comprovação do
envolvimento da Al Qaeda, mas é
possível que a organização tenha
participado dos ataques.
Contatos ampliados
Desde 2001, mais de 3.000 suspeitos de envolvimento com o terrorismo foram presos em quase
cem países. Estima-se que entre
60% e 70% dos quadros mais importantes da Al Qaeda estejam
mortos ou atrás das grades, inclusive figuras-chave como Khalid
Sheik Mohammed (suspeito de
ter sido um dos organizadores
dos ataques contra o World Trade
Center e o Pentágono).
Não é pouco. Mas, para contrabalançar a perda de quadros e
mostrar que está viva, a organização está reforçando sua rede de
contatos com grupos islâmicos
radicais ao redor do mundo.
"Não há dúvida de que a Al Qaeda está trabalhando com grupos
islâmicos menores, treinados durante anos no Afeganistão. E que
há uma coordenação entre os ataques dos últimos meses, em especial os de maio e agosto", afirmou
Gunaratna, pesquisador do Centro para o Estudo de Terrorismo e
Violência Política da Universidade St. Andrews (Escócia), em entrevista à Folha logo após o ataque à ONU.
Tradicionalmente, a cúpula da
Al Qaeda priorizava ataques contra alvos estratégicos mais difíceis
e deixava os mais fáceis para seus
grupos associados.
Com a perseguição aos níveis
mais altos da organização e a intensificação das ações de inteligência e das medidas de segurança nos EUA, na Europa e na Ásia
Central, muitos de seus membros
estão trabalhando com grupos
terroristas em regiões menos visadas, que passarão a ter acesso a
tecnologias mais sofisticadas. "O
teatro de guerra vai se ampliar",
afirmou Gunaratna.
Com a ocupação do Iraque, e a
presença de cerca de 150 mil soldados americanos no coração do
Oriente Médio, a situação pode ficar ainda mais complexa.
"A queda de Saddam Hussein
não foi ruim para a Al Qaeda, que
não gostava do regime iraquiano
e agora tem a oportunidade de
atacar diretamente os EUA, sem
precisar se arriscar em solo americano", disse Daniel Byman, pesquisador nas áreas de estratégia
contraterrorista e terrorismo no
Oriente Médio do Instituto Brookings, em Washington.
Desde 1º de maio, quase 70 americanos morreram em ataques no
Iraque e, embora certamente não
se possa atribuir essas mortes à Al
Qaeda, já surgem indícios de que
a rede terrorista tentará fazer do
Iraque o palco principal de suas
atividades terroristas.
"Para a Al Qaeda, desmoralizar
os EUA no Iraque seria comparável à desmoralização impingida
aos soviéticos no Afeganistão",
afirma Byman, professor da Universidade Georgetown.
Resta dizer que, apesar de muitos dos quadros mais experientes
da Al Qaeda estarem fora de combate, seu grande ideólogo, o saudita Osama bin Laden, continua
desaparecido.
Não é possível dizer, com 100%
de certeza, se o inimigo número 1
dos EUA está vivo ou morto, mas
o mais provável é que esteja escondido na região de fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão.
Também o número 2 na hierarquia da organização, o egípcio
Ayman al Zawahiri, segue desaparecido.
Texto Anterior: Império cria "franquias" Próximo Texto: Terror é eterno, diz especialista Índice
|