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Ex-repúblicas da URSS ainda dependem da Rússia
DA REDAÇÃO
Mais de dez anos após o colapso
da URSS, a Rússia continua sendo
economicamente vital para as outras 14 ex-repúblicas soviéticas,
embora os três Estados bálticos
(Estônia, Letônia e Lituânia) já tenham conseguido atravessar boa
parte de sua transição econômica.
A principal causa disso ainda é a
forte interligação econômica que
existia na URSS, embora o rublo
(moeda russa) tenha perdido seu
poder de atração nos últimos
anos, mantendo-se realmente influente somente em Belarus, na
Armênia e no Tadjiquistão.
"Como as repúblicas faziam
parte de um sistema econômico
altamente integrado e centralizado, ainda há uma enorme interdependência entre os países surgidos após o desmoronamento da
URSS e, sobretudo, uma predominância da Rússia", explicou à
Folha Fiona Hill, pesquisadora do
Instituto Brookings (EUA).
"Os outros países dependem,
em maior ou menor escala, da
Rússia no que se refere ao fornecimento de combustível, especialmente de gás natural, e eletricidade. Ademais, a Rússia é o maior
mercado consumidor da região, e
muitas das repúblicas não têm
acesso a outros mercados por
conta de sua posição geográfica",
acrescentou a autora de "Russia:
The 21st Century's Energy Superpower?" (Rússia: a superpotência
energética do século 21?).
Por outro lado, como lembrou o
cientista político armênio Asbed
Kotchikian, inúmeros habitantes
das repúblicas do Cáucaso e da
Ásia Central -como a Geórgia, a
Armênia, o Quirguistão e o Tadjiquistão- deixaram seus países
para trabalhar na Rússia.
"Permanente ou temporário,
um emprego na Rússia significa
que o trabalhador pode enviar dinheiro a seus familiares. Assim,
essas transferências constituem
parte significativa da renda de outras repúblicas, o que, logicamente, aumenta sua dependência da
Rússia", analisou Kotchikian.
Sem dúvida, a questão econômica mais importante na região é
a energética. "O gás natural russo
garante a geração de energia e a
calefação doméstica, algo crucial
em locais de clima inóspito, na
maior parte da ex-URSS. Além
disso, Estados exportadores de
gás natural, como o Azerbaijão, o
Cazaquistão e o Turcomenistão,
dependem dos gasodutos russos
para transportar seu produto para a Europa e para outros pontos
da região", afirmou Hill.
O modo de agir dos russos não
facilita as coisas para as outras ex-repúblicas soviéticas. Na década
passada, Moscou chegou a cortar
suas exportações de gás natural
para a Ucrânia e para a Geórgia,
por exemplo, para exercer pressão política. Também impediu
que o Turcomenistão utilizasse
seus gasodutos, provocando sérios danos econômicos no país.
"Contudo a Rússia adotou, recentemente, uma estratégia mais
sofisticada, comprando sistemas
privatizados de geração de energia e de distribuição de gás e de
eletricidade nas ex-repúblicas soviéticas e reintegrando-os às redes
russas. Isso já ocorreu na Armênia e na Geórgia e ocorrerá na
Moldova e no Quirguistão ao longo de 2004", avaliou Hill.
A Rússia é hoje a maior produtora de gás natural e de petróleo
do mundo, já que a Arábia Saudita, que possui reservas petrolíferas maiores que as da Rússia, não
produz até o limite de sua capacidade. A questão é tão relevante
para os russos que seu embaixador na Ucrânia, segunda maior
economia da região, é o ex-premiê Viktor Tchernomyrdin, que
dirigiu a estatal de gás Gazprom.
Há vultosos investimentos russos na Ucrânia, sobretudo na indústria pesada e no setor de manufaturados. Soma-se a isso o fato
de inúmeros gasodutos e oleodutos usados pelos russos passarem
pelo território ucraniano.
Portanto, com exceção dos Estados bálticos -cujos laços históricos com a Europa permitiram a
aceleração da transição econômica, embora a corrupção ainda seja
um grave problema-, as ex-repúblicas soviéticas ainda pagam o
preço dos 70 anos de isolamento
dos mercados globais.
E, apesar de todos os seus esforços (muitas vezes, patrocinados
pelo FMI), a diversificação de sua
produção e o desenvolvimento
das capacidades de sua mão-de-obra e de sua infra-estrutura ainda são objetivos distantes.
Afinal, como a extinta URSS
privilegiava a interligação econômica entre suas repúblicas (ferramentas industriais eram fabricadas na Armênia, algodão era
plantado no Uzbequistão, carne
ovina era produzida no Quirguistão etc.), o ponto de partida das
economias nacionais depois do
colapso do império soviético
freou seu rápido desenvolvimento nos anos subsequentes e serviu
para manter os outros Estados dependentes da Rússia.
(MSM)
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