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SEXO VULNERÁVEL
Para diretora de fundo para as mulheres, principal causa do problema é desequilíbrio de poder entre os sexos
Uma em cada três mulheres enfrenta violência, diz ONU
LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO
Uma em cada três mulheres no
mundo é vítima de violência em
dado momento de sua vida.
O número é uma estimativa do
Unifem, o Fundo de Desenvolvimento da ONU para a Mulher, e
dá a medida de quão pouco
adiantada está a implementação
dos direitos femininos no mundo.
Tamanha é a disseminação do
problema -que abrange violações, estupros, espancamentos e
maus tratos- que o Unifem o
trata como "pandemia".
"Nós já determinamos qual é a
causa disso: é a divisão desigual de
poder entre homens e mulheres.
A violência contra a mulher não
conhece fronteira, classe social
nem cultura. Ela está espalhada",
disse à Folha, em entrevista por
telefone de seu escritório, em
Washington, Noeleen Heyzer, diretora-executiva do Unifem.
"Já a natureza dessa violência
difere de lugar para lugar: na Europa as maiores lutas são contra a
violência doméstica e o tráfico humano. Nos EUA, houve um artigo
recente mostrando que essa é a
maior preocupação para muitas
mulheres no país. Já em países em
conflito, há o estupro sistemático", enumera.
Embora o mundo tenha avançado no debate do assunto e na
criação de mecanismos legais para lidar com ele, diz Heyzer, os
efeitos ainda são incipientes.
"Em termos de leis, consciência,
conhecimento, redes de trabalho,
pesquisas e parcerias houve progresso. Mas ainda precisamos de
muito apoio", afirma. "A implementação da lei ainda muito
ruim. Também há o problema
dos recursos -administramos
um fundo global que só tem US$ 1
milhão para aplicar por ano."
Apesar das dificuldades, há
avanços. A América Latina é um
dos maiores destaques, onde vários países, segundo Heyzer, já
mudaram a estrutura legal para lidar com a questão da violência
contra a mulher. "Os governos estão começando a tratar da questão, as mulheres não têm mais de
lidar sozinhas com isso. Nós estamos satisfeitos nesse sentido",
afirma a diretora do Unifem.
A solução está próxima? "A analogia que eu costumo fazer é que
as mulheres estão tentando subir
numa escada rolante que desce:
colocamos uma enorme energia
em fazer progresso, mas somos
pegas numa máquina enorme
que vai na direção oposta", responde. "Nesse sentido, leis e energia não são suficientes. Temos,
agora, de olhar para essa máquina, saber que temos de acabar
com isso desesperadamente, assegurando que as mulheres tenham
voz na sociedade."
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